Os moçambicanos foram chamados às Eleições Presidenciais, Legislativas e das Assembleias Provinciais, entre os dias 09 e 12 de outubro de 2024, onde quatro candidatos presidenciais disputaram pelo mais alto cargo do País. Destes quatro candidatos, pelos resultados até aqui divulgados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), dois candidatos sobressaem imediatamente: Daniel Francisco Chapo (Frelimo) e Venâncio António Bila Mondlane (PODEMOS), considerados como os grandes vencedores do escrutínio.
Para as Eleições Gerais, estavam inscritos mais de 17 milhões de eleitores, mas apenas 7.4 milhões de moçambicanos foram às urnas, deixando um saldo abstencionista de mais de 56 por cento. Dos resultados anunciados, no passado dia 24 de outubro, pelo Presidente da CNE, Dom Carlos Matsinhe, o candidato da Frelimo obteve 70.67%; Venâncio Mondlane, 20.32%; Ossufo Momade, 5.81% e, por fim, Lutero Simango amealhou 3.21% dos votos.
Através destes resultados, o jornalista e analista político Alexandre Chiure, em entrevista concedida à “Integrity”, desconfia dos números oficiais, porque podem ser manipulados para satisfazerem interesses políticos, e, por isso, entende que o candidato suportado pelo Partido PODEMOS seja o grande vencedor das últimas eleições, não obstante os números oficiais, que até aqui estão a ser contestados, darem vitória a Daniel Chapo e a Frelimo.
A narrativa dos números foi também bastante criticada pelo Consórcio Eleitoral “+ Integridade” que, no seu relatório, afirmou que “houve fraude a favor do partido Frelimo e do seu candidato presidencial, Daniel Chapo”, tudo porque “no momento da contagem de votos, quando os números indicavam vitória para Venâncio Mondlane e o partido PODEMOS, os delegados da Frelimo desapareceram dos locais de votação, mas, no dia seguinte, os editais e actas, já assinados, mostravam resultados completamente diferentes”.
Posição esta repisada pela Missão da Observação Eleitoral da União Europeia (MOUE) que defende que os resultados eleitorais apresentados pela CNE não dissiparam as preocupações daquele organismo, uma vez que houve irregularidades durante a contagem, e alterações injustificadas dos resultados eleitorais. Portanto, no meio de todo este processo eleitoral, quando todos acreditavam que o candidato presidencial Venâncio Mondlane não teria uma votação elevada, e tendo conseguido, conforme dados anunciados pela CNE, no passado dia 24 de outubro, 1.412.517 votos; deixou muita gente perplexa e apanhou a elite política um tanto quanto desprevenida. Refira-se, nessa senda, que, segundo esse mesmo anúncio da CNE, Daniel Chapo obteve no total 4.912.762 votos; Ossufo Momade conseguiu 403.591 votos e Lutero Simango teve 223.066 votos.
Estes dados, conforme disse na ocasião, o Director do Centro para a Democracia e Direitos Humanos (CDD), Adriano Nuvunga, mudaram, totalmente, o “xadrez político” nacional, trazendo à ribalta um novo grande actor político, neste caso, o Engenheiro Venâncio Mondlane que, para chegar ao status de “candidato” teve que passar por várias provações.
Os Resultados Eleitorais
Pela lógica dos resultados, até aqui anunciados pelas CPE, a Frelimo e o seu candidato a Presidente da República, Daniel Chapo, estão em vantagem nas Eleições Legislativas e Presidenciais de 09 de outubro passado, conforme os dados da centralização provincial, anunciados com base nos resultados referentes aos 11 círculos eleitorais, nomeadamente: Cidade e província de Maputo, Gaza, Inhambane, Sofala, Manica, Tete, Zambézia, Nampula, Niassa e Cabo Delgado.
Na província de Maputo, segundo as autoridades eleitorais, Daniel Chapo obteve 656.056 (68%); Venâncio Mondlane tem 260.279 (27,5%); Ossufo Momade ficou com 24.112 (2,5%) e, na cauda, Lutero Simango alcançou 23.612 (2%). Para as legislativas, a Frelimo conseguiu 614.860 votos (67%); o PODEMOS alcançou 229.931 votos, correspondentes a 25.07%; a RENAMO ficou em terceiro lugar, com 30.678 (3.34%), e o MDM, com 24.247 (2.6%). Ainda em Maputo, nas eleições provinciais, a Frelimo tem uma vantagem de 626.859 votos, ou seja, 65%; seguido pelo PODEMOS, que teve 235.134 votos (24.5%); a RENAMO, com 43.474 (4.5%) e, finalmente, o MDM conseguiu 30.037 (4.1%).
Na província de Gaza, de acordo com a CPE, Daniel Chapo obteve 487.275 votos, correspondentes a 84.59%; Venâncio Mondlane amealhou 66.071 (11.47%); Lutero Simango teve 13.404 (2.33%) e Ossufo Momade ficou com 9.288 (1.61%). Nas eleições legislativas, a Frelimo ficou com 500.187 (87.40%); o PODEMOS alcançou 25.382 (4.44%); a RENAMO 16.030 (2.80%) e o MDM ficou com 12.152 (2.12%). Enquanto isso, nas eleições provinciais, a Frelimo obteve 497.109 votos (87.67%); o MDM ficou em segundo lugar com 27.633 votos (4.87%); a RENAMO obteve 22.548 (3.98%) e o PARENA teve 19.630 votos (3.46%).
Em Inhambane, segundo a CPE, presidida por Emília Sumbana, o candidato presidencial, Daniel Chapo, aparece na frente com 300.298 votos, o equivalente a 73.16%, seguido por Venâncio Mondlane, com 81.525 votos (19.86%); Ossufo Momade, com 15.094 votos (3.68%), por fim, Lutero Simango obteve 13.577 votos (3.31%). Nas eleições legislativas, a Frelimo ficou com 358.280 votos (78,38%); o PODEMOS 34.646 votos (7.4%); a RENAMO (29.498 votos) e o MDM com 12.693 votos. Para as eleições provinciais, a Frelimo teve 293.924 votos (76%); a RENAMO tem 29.498 (9%) e o MDM (8%).
Para as eleições presidenciais, conforme a CPE de Tete, Daniel Chapo segue em vantagem com 84.42%; Venâncio Mondlane teve 94.116 votos equivalente a 10.84%; Ossufo Momade teve 25.299 (2.91%) e, por último, Lutero Simango com 1.62%. Nas legislativas: Frelimo (85.59%); PODEMOS (6.11%); RENAMO (4.42%) e MDM (1.86%).
O cenário repete-se em Sofala, com Daniel Chapo à frente, com 65.54%; Venâncio Mondlane com 24.27%; Lutero Simango com 6.94% e Ossufo Momade com 3.25%. Nas legislativas, a Frelimo (65.55%); o PODEMOS (12.81%); o MDM (9.75%) e a RENAMO obteve 5.70%. Já na província da Zambézia, para as presidenciais, Daniel Chapo teve 644.602 (73%); Venâncio Mondlane tem 150.102 (14%); Ossufo Momade (9%) e Lutero Simango (3%). Entretanto, segundo os dados da eleição legislativa, a Frelimo tem 676.203 votos (73%); RENAMO (14.99%); PODEMOS (7.54%) e MDM (2.18%).
Para as eleições provinciais, MDM (2.61%); Frelimo (71.70%), RENAMO (15.88%) e PODEMOS (7.38%).
Na província nortenha de Nampula, Daniel Chapo segue em vantagem com 59.58%; Venâncio Mondlane tem 25.59%; Ossufo Momade amealhou 11.17% e Lutero Simango obteve 3.68%. Nas legislativas, a Frelimo aparece à frente com 57.93%; PODEMOS tem 19.04%; RENAMO ficou com 12.96% e o MDM com 3.81%. Por fim, na província de Niassa, Daniel Chapo (68.05%); Venâncio Mondlane (18,54%); Ossufo Momade (8.25%) e Lutero Simango (3.59%).
Mas, quem é Venâncio Mondlane?
Venâncio António Bila Mondlane é um pastor e político moçambicano, nascido a 17 de janeiro de 1974, na cidade de Lichinga, província de Niassa. Antes de concorrer às eleições presidenciais de 2024, foi candidato a Presidente do Município de Maputo, onde concorreu por duas vezes, tendo sempre reclamado a vitória, mas nunca chegou a governar. Entretanto, o cenário se repete actualmente, facto este que levou os seus apoiantes a manifestarem-se em todo o País.
Contrariamente, a narrativa dos outros partidos, Venâncio Mondlane, durante a campanha eleitoral, não teve tanta cobertura da média oficial, tendo, por isso, investido amplamente nas redes sociais, com principal enfoque para o Facebook, WhatsApp e Youtube, onde, em termos comparativos, tem mais seguidores que os restantes candidatos políticos, conforme o gráfico abaixo.
Devido a este uso das plataformas digitais, Venâncio Mondlane, diferentemente dos outros candidatos, que sempre que pretendem passar sua mensagem devem recorrer aos meios de comunicação convencionais, Mondlane, através da sua página oficial do Facebook, consegue ter mais de 160 mil seguidores conectados e um alcance acima de um milhão de visualizações em menos de 30 minutos.
Um dado verificado durante o período da campanha eleitoral, em relação aos candidatos presidenciais, mostra-nos que, enquanto Daniel Chapo, do partido Frelimo, tinha uma comitiva composta por vários jornalistas de todos órgãos públicos (TVM, RM, Notícias, Domingos, AIM, Rádio Índico, Strong Live, etc.) e uma parte significativa dos órgãos de comunicação social privados; Venâncio Mondlane tinha na sua comitiva, a STV, TV Sucesso, TVM e RAM TV, mas quase toda a sua propaganda era feita através da suas páginas oficiais do Facebook e Youtube que transmitiam, em directo e com recurso a um drone controlado por uma equipe de três a quatro repórteres, os principais insights da sua campanha eleitoral.
Contudo, enquanto comentadores como Dércio Alfazema e a plataforma “Mais Transparência”, representada pelo académico Bitone Viagem e outras figuras, repisam os números eleitorais da CNE, acima mencionados, organizações como a UE, Mais Integridade, Plataforma Decide, CDD e figuras como o Professor Fernando Cardoso problematizam os números da CNE, tendo como argumento que os resultados na “boca da urna” indicam que Venâncio Mondlane é o “grande vencedor das eleições presidenciais”, assim como o PODEMOS, que, antes dos dias 09 e 12 de Outubro, era um partido extraparlamentar; tendo, com os votos destas eleições, amealhado resultados que o tornam um partido político relevante, com assentos parlamentares significativos, apesar de ainda estar a reivindicar ter 138 assentos, contra os mais de 30 atribuídos pela CNE.
No entanto, Venâncio Mondlane diz que, da contagem paralela realizada pela sua equipa, obteve 53.30% dos votos e o partido PODEMOS teve 138 mandatos, contrariamente ao que aconteceu, onde foram alegadamente roubados cerca de 107 assentos ficando com 31 apenas, ou seja, segundo o PODEMOS, Venâncio Mondlane venceu com 53%, Daniel Chapo teve 39%, Ossufo Momade tem 5% e Lutero Simango com 3%. Assim, confiantes nesses dados, o PODEMOS submeteu ao Conselho Constitucional (CC) um recurso através do qual exige a reposição da verdade eleitoral, estando simultaneamente a realizar manifestações ao nível nacional, que ganharam proporções jamais vistas no País, infelizmente, com actos de vandalismo, saques, detenções, feridos e mortes à mistura. (Omardine Omar)
INTEGRITY – 11.11.2024