Por Edwin Hounnou
Os processos eleitorais que ocorrem, em Moçambique, têm servido, de forma inequívoca, de que lado está a PRM (Polícia da República de Moçambique) e a quem servem. Em todos os conflitos que surgem nos momentos eleitorais. A PRM não tem sido republicana e equidis tante aos partidos concorrentes às eleições, pelo menos ao nível mais alto da sua liderança.
A PRM age de maneira como se fosse uma força privada da Frelimo que actua sob às ordens da Frelimo que lhe apontando os alvos a perseguir, a prender e até a silenciar como tem sido sua prática. Os assassinatos politicos de Anastácio Matavele, em Gaza, Gilles Cistac em Maputo e o caso mais recente de Elvino Dias e Paulo Guambe que tem as características de que tenha sido uma encomenda política.
As forças coloniais, dizem alguma fontes orais, que, em Mueda, província de Cabo Delgado, massacraram cerca de 600 pessoas por reclamarem a independência. Em Dezembro de 1972, no posto administrwtivo de Wiriamu, na provincia de Tete, as tropas coloniais mataram 385 pessoas, ajuntadas pela tropa portuguesa para dizerem como os "turras" haviam escalado aquela povoação.
O massacre de Wiriamu teve como razão a morte de dois oficiais do exército que passavam por aquela povoado numa viatura que detonou uma mina anti-carro, o que provocou uma onda de solidariedade internacional a favor do povo moçambicano que era oprimido pelo regime colonial. A maior parte dos países do mundo condenou as autoridades coloniais. A independência e liberdade pareciam demorar a chegar.
Quando nos tornamos independentes, a 25 de Junho de 1975, muitos pensavam que os massacres e assassinatos haviam passados para história, que seriam algo do passado, que o povo não voltaria a ser massacrado. Era puro engano. Não foi preciso esperar por muito tempo para ver as prisões arbitrárias retomadas, no país já livre do colonialismo.
Os campos de concentração, que, ironicamente, chamavam de campos de reeducação, foram preenchendo as matas de Cabo Delgado, Niassa, Sofala, Zambézia e Nampula. Andar sem BI ou guia de marcha era motivo para ser internado num campo de reeducação. As senhoras suspeitas de prostituição eram conduzidas aos campos de concentração. Diziam que, de lá, sairiam homens e mulheres do "tipo novo".
Os massacres e assassinatos políticos não desapareceram com a queda do colonialismo. Entre 1977/1980, os chamados reaccionários - o grupo constituído por Reverendo Uria Simango, Padre Mateus Guengere, Médico João Unhay, Dra. Joana Simeão, Celina Simango, entre tantos outros mártires, foram jogados numa cova com fogo em chamas, a mando da direcção da FRELIMO, até ficarem carbonizados.
À volta da cova em chamas, os guerrilheiros-guardas dos campos desses prisioneiros, enquanto entoavam canções revolucionárias, para animar a carnificina. O regime colonial já havia sido derrotado e expulso, mas, os assassinatos e massacres ainda prevaleciam nos mesmos moldes. Assim, a incerteza do amanhã virou um pesadelo para milhões de moçambicanos.
Nas marchas de protesto contra os resultados fraudulentos das eleições presidenciais e legislativas de 1999, foram recolhidos às celas da polícia, mais de 200 manifestantes pró-Renamo, na Vila de Montepuez, província de Cabo Delgado. Desses detidos, 119 morreram nas celas devido à fome, asfixia e sede, segundo relatos. Até ao presente momento, ninguém foi detido nem julgado nem condenado por esse genocídio.
Os autores desse crime hediondo continuaram a viver normalmente como se tivessem prestado um grande serviço à pátria. O modus operandi da Frelimo continua inalterável o de silenciar vozes incómodas nem que essas estejam nas suas próprias fileiras. Nada custa à Frelimo abafar, silenciar ou mandar abater as vozes externas a si.
É incrível que, em Mecanhelas, província de Niassa, nas eleições de 2024, a polícia tenha atirado à queima-roupa contra manifestantes sob ovações dos militantes e simpatizantes da Frelimo que festejavam os resultados fraudulentos que dão vitória retumbante, sufocante e qualquerizante a si e ao seu candidato, Daniel Chapo. A manifestação, que a Frelimo nega ao povo, é um direito constitucional.
A PRM, fundamentalmente a UIR (Unidade de Intervenção Rápida) é o instrumento de de que a Frelimo se socorre para dizimar seus adversários. Nos países de Estado de Direito Democrático, os serviços de inteligência servem ao Estado. Não se ocupam pela manutenção do partido no poder. Assim, os assassinatos e sequestros chegam a ser esclarecidos. Os bandidos enchem o "monte" para onde se refugiam, segundo a polícia.
Entre nós, os serviços secretos dobram o joelho perante a Frelimo. É ela que indica a quem deve perseguir, tramar e tomar como inimigo. Tudo indica que ainda somos um Estado medieval, atrasado e intolerante onde a polícia mata o povo e nada lhe acontece.
A PRM é parte do problema com que o povo se confronta, como o STAE, CNE e Conselho Constitucional por estas instituições estarem ao serviço do partido no poder.
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 06.11.2024