ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Durante os Séculos XIII, XIV e XV até iniciou do Século XVI a Europa era “periferia” do mundo em que você tem o “isolamento” de um determinado grupo étnico religioso, cultural que são os cristãos latinos, o centro da Europa que nós nos acostumamos a pensar ou a imaginar na nossa “narrativa” que é o centro do mundo.
É curioso que nós temos “relações” de colonização tão fortes que nós iniciamos todos os nossos Cursos, conceitos, conteúdos e Instituições “retomando” uma imagem de países ou imagem de nação que sempre se concentra num único lugar do mundo: nesse caso, a filosofia “nasceu” numa Grécia imaginaria quê estaria no “centro” da europa, a democracia também é um conceito desse grupo, a própria ideia da República é uma questão latina daquele grupo, Economia, o Direito também teria o nascimento dentro de “alguns pensamentos” daqueles intelectuais, daquele lugar.
Séculos, milénios, toda a “história da humanidade” parece que passa apenas como “referência” naquele pontinho [lugar] do mundo. E porquê que nós teríamos esse imaginário na maneira de pensar? Bom! É, porque nós efectivamente fomos “colonizados” por uma narrativa moderna. Repare! Durante o Século XIX foi se 'criando' uma série de novas ciências, dentro de um certo [paradigma] de uma maneira de “pensar” nas quais se retomava como chegamos até aqui, como o centro no mundo pensando por si, desde si mesmo.
Ou seja, o[s] europeu[s] dentro e depois do período de colonização e exploração no qual “militarmente” se impuseram sobre o mundo construem uma história de si mesmos; criou a historiografia, as narrativas científicas modernas e que vão “separar” os períodos ao mundo em idade antiga, idade média e idade moderna.
Destarte, idade antiga seria a pré-história, o “iniciou ou a concepção” duma história, dessa Europa moderna; idade média é o período de “transição” daquilo que era bom, clássico, inicial que se “enfraqueceu” eles perderam o seu poderio e quê vai “renascer” na moderna, na era moderna que seria àquilo que é “mais actual”, que é mais importante, que é mais forte e que teria como traço a idade média.
Repare, essas “experiências” do que se chama idade média, de feudalismo, Igreja católica, dominação cristã e… etc., esteve num cantinho bem pequeno do mundo, o resto do mundo vivia outras coisas, mas “nós estudamos” como se fosse uma história universal. História universal, “porque nós naturalizamos” relações de colonização, a ideia de que, se você conquista alguém é por uma superioridade cultural, é porque você é um ser humano ou é duma etnia muito mais forte que a outra que é “regulada” por uma questão de força militar não “necessariamente” por uma superioridade cultural propriamente dito, ou seja, de saber de ciências, de saber de medicina, de conhecimento técnicos em várias outras áreas, mas reduz-se ao “poder militar”, de impor a minha maneira de ser ou de impor as minhas relações de domínio e de conquista sobre os demais.
Aníbal Quijano Obregon, 19[28]-20[18] que foi um sociólogo e pensador humanista peruano, dizia bastante sobre a “colonialidade do poder”, que seriam essas relações nas quais as Instituições e as pessoas trabalham em função de “imposição” de uma bagagem cultural ou civilizacional sobre as outras, e isso, “desembocava” também na colonialidade do saber quê seria numa frase de um artigo que ele escreveu: “nem toda a ideia se torna hegemónica”. Ou seja, aquela ideia que é + aceito ou + importante simplesmente por ser boa; por vezes essas ideias chegam com canhões”.
Dizendo em outras palavras, aquela ideia renascentista, mágica de que questões lógicas, argumentativas, de pensamento matemático, físico com acerto de patrão lógicos, sim… por serem melhores racionalmente aceitáveis, elas “ruem” um pouco quando nós colocamos as relações de poder de colonização e de exploração no meio de tudo isso.
Assim, eu posso ter uma excelente ideia que não vai ser e se “tornar hegemónica”, porque não tem “poder militar” ou de “força cultural” para se impor e quando nós nos colocamos nessa posição da crítica desde a colonização, o mundo se abre na sua frente de outra forma, nos quais uma série de “disputas” perdem um pouco de interesse e mesmo de sentido e de noção, porquê eles se “diluem” dentro dessa ideia, de que, nós somos formados à base de exploração, de colonização e essas relações se mantém de várias maneiras ainda hoje.
O processo de “crítica” à modernidade ou as relações de colonização na modernidade não significa tomada de posição conservadora, menos ainda uma “crítica” pós-moderna, mas significa uma “crítica” desde o terceiro mundo, uma desde a periferia, uma “crítica” das relações de colonialidade. As disputas entre conservadores modernos e pós-moderno vêm de 'discussões e modos' de pensar dentro de determinados lugares do mundo quê a própria Europa central e Estados Unidos, ou seja, dos países que se “beneficiaram” do processo colonizador, do processo de escravidão e tudo +.
A exemplo, a “própria narrativa” que nós temos de falar sobre a história universal, sobre história humana que começa com a antiguidade medieval e modernidade ou mesmo a narrativa que nós temos dentro dos discursos de estudo de filosofia, o modo como nós narramos a história da música, o modo como nós narramos a história da arte, o modo como nós nos colocamos no mundo. Ou seja, onde estavam os meus [ancestrais], onde estavam as pessoas desta terra, onde estavam as pessoas do continente africano, do continente asiático, onde estavam os povos originários de cada um desses lugares, enquanto corria a história universal; parece que do nada surgem povos que são primitivos, atrasados, quer dizer, não faz sentido aquilo que o conteúdo que essas pessoas produzem, produziram ou tem é coisa do passado e arcaico.
Necessariamente melhor é o que se “produz” no Norte do mundo, é dentro do projecto civilizacional que nós chamamos de modernidade, de progresso, de avanço tecnológico e tudo + e isso, se apresenta em vários lugares, tanto nas nossas relações interpessoais, ou seja, um professor, quando entra na sala se você pensar numa ideia que se chama de moderno ele vai “aplicar” um tipo de relação com os alunos que é uma relação quê o Paulo Freire chamava de bancária.
Ou seja, ele vai entrar dentro da sala e vai depositar um monte de coisas, de bando de alunos sentados um olhando para nuca do outro “cartesianamente” dispostos dentro duma sala, partindo do “pressuposto” que o professor é àquele responsável por civilizar os alunos. Deferente, por exemplo do que Paulo Freire propõe desde uma crítica, desde a realidade que está inserido “pensando” nas relações com camponeses, com o projecto de alfabetização e que ele 'envolve' os sujeitos no processo de educação de outra maneira, é uma “crítica”, é um posicionamento crítico as relações coloniais, de colonialidade, de violência, de exploração que nós temos dentro duma Instituição, por exemplo, educacional.
Outra coisa, as relações dentro do Estado moderno. O que nós chamamos de Estado moderno que está aqui na nossa República por vezes se assume o cargo e se coloca nesse cargo como o “devedor”, o sujeito põe a capa daquele que “deve civilizar” ou “ensinar” o povo como deve tomar as suas decisões, “ensinar” o povo qual o verdadeiro caminho para a democracia, “ensinar” o povo qual o verdadeiro caminho para o progresso, para o desenvolvimento económico e deixe uma estrutura de poder, de violência, dominação e de conquista.
Mas isso, também acontece dentro das empresas modernas, em que, “devo adoptar” cartilhas económicas propostas por Instituições que são muito modernas dentro de relações de poder, de uma economia capitalista “constituída” dentro de estrutura de exploração e quando você coloca dentro das perspectivas de colonização, dentro da história você observa esses [500] anos de outra maneira e as nossas relações também.
Por vezes, a nossa própria ideia religiosa, caso você o seja tem essa missão: envangelização ou catequese, baptismo ou sei lá…esses “processos” de tentar converter alguém dentro de relações de colonização. Ou seja, eu vim impor para você, àquilo que é o “único caminho” verdadeiro à força e se você não está connosco ou você é “um atrasado” e nem é digno de viver, pois o “progresso” da história vai avançar e nós estaremos salvos e outro não. Veja, está dentro de uma ideia de missão moderna, dentro duma ideia de cristianismo moderno, no caso, que você seja cristão, por exemplo, e têm várias maneiras de interpretar e de trabalhar isso.
Em termo simples, a colonialidade “se constitui” como exactamente a existência desse [resquício], desse eixo de dominação quê “permanece” nos povos que foram colonizados, mesmo após o colonialismo isso se “reverbera” no dia-a-dia nas nossas Instituições: no “uso excesso de poder força” na actuação policial contra manifestantes, nas Universidades, por exemplo, na forma de fazer ciência e pesquisa e...por ai vai.
Portanto, eu poderia até dizer duma forma não técnica quê a colonialidade é uma [herança] da colonização.
Manuel Bernardo Gondola
Maputo, [27] Dezembro, 20[24]