Por Edwin Hounnou
Quando o macaco não sabe dançar, desculpa-se diz que o chão está torto. Este é um dito muito popular que se encaixa bem nas atitudes comportamentais do partido Frelimo que, sempre, procura encontrar um culpado para justificar as suas incompetências e incapacidades de resolver os problemas com os quais se defronta. Procura, a qualquer custo, encontrar um inimigo externo ou uma mão externa que cria este ou aquele problema ou dificuldade.
Desde há muito que a Frelimo procura em outras pessoas ou instituições a razão dos seus fracassos. A culpa nunca está em si, na sua forma como trabalha ou deixa de trabalhar. O culpado é sempre o outro. Dizem que o feiticeiro entra numa família se deve ao facto de alguém de dentro lhe abriu a porta ou a janela. É um discurso empoeirado.
A Frelimo compara-se a uma avestruz que, para não ver o perigo à sua volta, enfia a cabeça na areia ao invés de enfrentá-lo com coragem e determinação. Essa táctica cobarde tem produzido muitas vítimas inocentes. Quando, em 1976, iniciou a guerra dos 16 anos, a Frelimo acusou os regimes da Rodésia do Sul e do Apartheid da África do Sul como os mentores e se esqueceu de que o seu totalitarismo deve ter contribuído bastante para o surgimento de focos de resistência.
As consequências dessa guerra, que terminou em 1992 com com o Acordo Geral de Paz de Roma, são enormes e incalculáveis. Mesmo assim, a Frelimo não aprendeu, não abriu as portas para a paz, democracia efectivas. Sempre deixou uma janela aberta para práticas de discriminação e exclusão.
Na senda de sempre o culpado dos seus actos, em 1981, militares sul-africanos atacaram algumas infraestruturas da Cidade da Matola, o governo de Samora Machel não reparou para as fraquezas das FAM (Forças Armadas de Moçambique) ainda em formação e treinamento, saíu culpando os outros.
Samora Machel moveu uma rusga cruel de caça às bruxas que resultou em prisões arbitrárias. Algumas das vítimas desapareceram, para sempre, que nem as suas ossadas foram entregues aos seus parentes, em nome de respeito pela pessoa humana. Os que tentaram procurar saber da sorte reservada aos seus familiares foram presos, torturados e obrigados a ficarem num silêncio sepulcral. Essa postura não pode espantar a quem conhece o modus operandi da Frelimo capturada.
A Frelimo nunca tem culpa de nada. Agora, para justificar as manifestações populares contra os resultados fraudulentos das eleições de 09 de Outubro findo, já elaborou uma palmilha de mentiras. Não reconhece que o povo possa estar saturado das injustiças que vem engolindo há 50 anos, da falsificação dos resultados eleitorais desde a entrada do sistema multipartidário. A Frelimo não se lembra de que o povo não é um saco roto que nunca enche.
O povo está na rua contra as injustiças, a corrupção e os enchimentos de urnas com votos falsos para perpetuar no poder um regime inapto. No lugar de reconhecer os crimes que comete, inventa estórias alucinantes de que há organizações nacionais e estrangeiras que estejam a financiar as manifestações.
Essas loucuras mirabolantes já estão a atingir países amigos do povo moçambicano como é a Suécia que, de diversas formas, tem apoiado Moçambique desde os tempos da luta de libertação nacional. Incluir a generosa Holanda no grupo suspeito como apoiantes das manifestações é uma cegueira política e intelectual. O papel que esses países desempenham no desenvolvimento do país é, sobremaneira, inquestionável. Só uma atitude maliciosa pode justificar essa barbaridade.
A Frelimo tem que começar a ver que os problemas que apoquentam o país e seu povo residem dentro de si e nos outros. Não há nenhum feiticeiro que perturba a vida do país e o sossego do povo vem de fora e esforçar-se para colocar Moçambique nos carris de desenvolvimento e reconciliação nacional. O grande inimigo está na maneira como a Frelimo faz as coisas.
Não haverá paz enquanto se continuar a espreitar pela janela e gritar que há inimigos cercando a casa querendo um naco da carne que eles comem de olhos vedados. Não é nenhum inimigo de fora nem de dentro quem vem destruindo país, deixando-o sem uma agricultura comercial nem indústria. Não foi nenhum inimigo que abandonou o país sem vias de comunicação praticáveis.
Não é inimigo de dentro ou de fora que anda a destruir as nossas florestas e polui as águas dos rios. Quem anda associado às multinacionais no roubo dos recursos nacionais são os que tocam trombetas sobre a presença de mão externa. Não foi a mão externa que chamou militares ruandeses para virem até Maputo ajudar a reprimir os manifestantes.
Não há qualquer remédio para se resolver esta crise. Existe um só caminho : justiça eleitoral e recordar-se de que o país pertence a todos os moçambicanos. Ninguém tem o DUAT do país. Todos devem-se beneficiar das suas oportunidades.
O país precisa de um RESTART a começar pela despolitização dos órgãos de gestão eleitoral. O símbolo verdadeiro da mão externa é a Frelimo que pede dinheiro até para construir uma latrina.
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 04.12.2024