Por Edwin Hounnou
O Conselho Constitucional (CC) está a demonstrar que é tão pernicioso quanto o STAE (Secretariado Técnico de Administração Eleitoral) e a CNE (Comissão Nacional de Eleições) no que diz respeito às eleições livres, justas e transparentes. O CC ao invés de confrontar os polémicos resultados produzidos pelo STAE e encomendados pela CNE ao CC a fim de serem proclamados e validados, está a tomar as boladas da dupla STAE/CNE como referência última para validar os resultados.
Frisamos ainda que os resultados que o CC toma como referência para validação são o produto de enchimentos de urnas, de votos invalidados de forma dolosa e de outras falcatruas que deram origem aos protestos e manifestações de rua pelos quais o país está a passar.
O CC não está a resolver o verdadeiro problema que deu origem às manifestações. Está, tão-somente, a queimar tempo, a distrair o público com comunicados vagos de vitimização dos juízes-conselheiros como forma de fugirem do foco que criou as confusões que empurraram o país ao abismo.
O CC nada tem feito para levar à barra da justiça os indivíduos que conceberam e operacionalizaram as fraudes massivas que aconteceram. Os que circulavam entre as assembleias de voto com bolsos cheios de dinheiro para subornar os presidentes de mesa de voto a fim de facilitarem os enchimentos de urnas, invalidarem votos de candidatos e partidos da oposição ficam imune? Ficam como se nenhum crime tivesse cometido contra a vontade do povo?
A CNE que lavou as mãos como Pôncio Pilatos, aquele governador romano que entregou Jesus Cristo para que fosse açoitado e pregado na cruz ainda que não tivesse encontrado nenhuma culpa, esconde-se na sacristia a bater forte no peito e a repetir "mea culpa" enquanto espera pela proclamação e validação dos resultados da máfia.
Não se convocam eleições para diálogos, conversaças e negociações como forma de encobrirem os crimes eleitorais. Isso virou uma prática corrente em Moçambique. Roubar votos para beneficiar o partido no poder e seu candidato é o que está na moda. O partido que vence por máfias até se orgulha. Não há vergonha de chegar ao poder ou nele permanecer através de fraudes eleitorais.
Em todas as eleições multipartidárias aconteceram crimes desde o recenseamento deficiente nas regiões propensas à oposição, como Nampula, a extrapolação da população em idade para votar, como fazem em Gaza (o tal bastião da Frelimo) tem sido o exemplo da malandrice dos órgãos eleitorais para favorecer o partido governamental. A crise que se instalou poderia ter sido evitada se os órgãos de gestão eleitoral não fossem partidarizados.
Agora é tarde demais, o país está em chamas. As eleições foram a ignição que incendeou a raiva que o povo trazia no estômago. O povo, farto do regime apodrecido da Frelimo que empurrou o país para a miséria, já não exige apenas a justiça eleitoral, quer as cabeças de quem empobreceu os moçambicanos.
Ninguém exige que o CC faça magia. Para se ultrapassar este imbróglio, basta não faltar à verdade - recontar os votos comparando-os com os editais verdadeiros. Falamos de verdadeiros porque há os que a Frelimo andou a inventar para justificar a sua "estrondosa" vitória. Esses editais são de valor nulo. Se seguir se isso, não será necessário conversar com ninguém nem chamar os candidatos para se sentarem à volta da mesma mesa.
Os movimentos dos académicos, religiosos, partidos políticos e de outras classes sociais não seriam necessários, se as eleições tivessem sido justas. Em países normais, as eleições decorrem com toda a normalidade. Hoje há eleições e amanhã têm resultados dentro de toda a cordialidade e amizade. Aí as eleições são uma festa. Aqui, as eleições são um martírio, uma travessia do deserto.
Noutros países vizinhos do nosso, as eleições não significam tumultos. O povo se abraça. É como a rendição de sentinela. Não há pancadarias nem tiros na rendição da sentinela na porta das armas. Nós fazemos tudo ao contrário porque entre nós, estar na governação é uma oportunidade ímpar para agilizar negócios, movimentar drogas, estar nos conselhos de administração das empresas públicas e privadas.
Posto isso, os processos eleitorais viraram um acto de negócio político e não uma forma para o povo escolher por quem deseja ser governado. É uma maneira que os políticos mafiosos e corruptos encontraram para se perpetuarem no poder sem que tenham sido votados pelo povo e para que não sejam rotulados de ditadores. Os ditadores fazem eleições.
Adolphe Hitler foi "democraticamente" eleito. António Salazar também organizava eleições à sua maneira, todavia, todos eles eram fascistas , nazistas e ditadores. Mobutu Sese Seko e Idi Amin Dada faziam, também, eleições. Na nossa terra, seguimos os mesmos passos de outros ditadores que a História da Humanidade reservou para ensinar as gerações vindouras.
O ganhar ou perder uma eleição obedece a um critérios políticos. Ser proclamado vitorioso não depende da vontade dos eleitores, mas a uma vontade política que se expressa no que se diz "nós lutamos pela independência e daqui ninguém nos vai tirar ". Dito isto, concluimos de que os órgaos eleitorais só se batem para manter a Frelimo no poder. O governo percorre o mundo todo, de mão estentida, a pedir dinheiro para, alegadamente, realizar eleições sujas e fraudulentas.
"A liberdade jamais será dada pelo opressor, ela tem que ser conquistada pelo oprimido. Cada um de nós deve decidir se quer caminhar na luz do altruismo constructivo ou nas trevas do egoísmo" - in Martin Luther King Jr. O CC ja escolheu o seu caminho- a via das confrontações de rua entre os manifestantes os FDS. Desta esquina, gostaríamos de apelar , mais uma vez, ao CC para deixar de jogar gasolina sobre a fogueira e mas cingir-se, apenas, à busca genuína da justiça eleitoral.
O CC está disposto a atear fogo sobre o país e seu povo, por interesses egoístas de um grupo de pessoas. Quando isso pegar fogo, não haverá armas nem blindados capazes de parar a fúria do povo. Os militares ruandeses do "camarada" Paul Kagamé não serão capazes de parar o povo determinado a lutar pela sua liberdade.
Moçambique está acima dos interesses de qualquer partido, incluindo aFrelimo. Da maneira como a crise está sendo gerida, o país não mais voltara a ser o mesmo. Não ajudam a cimentar a paz e tranquilidade. O povo já acordou e sabe que a Frelimo é culpada pelos males que se abatem sobre o nosso país. Resta-nos, apenas, dizer : Salvemos nosso Moçambique dos abutres, batoteiros e mafiosos!
VISÃO ABERTA - 10.12.2024