Madrugada moribunda nasce altiva
Essa aurora dúbia sobre as acácias
De onde reescrevo este diálogo interior
Reescrevo escusado da esperança do porvir
Esse presságio suspenso em ramos ressequidos
Outrora verdes folhagens colorindo
A substância das palavras obstruídas
Na arca de memórias arroladas.
Reescrevo estas recordações pervertidas
Em tatuagens amarrotadas pelo tempo
Esse sujeito que me sujeita peregrino de um futuro
Que teima em não chegar chegando!
Do ventre de uma mãe ressentida
Reescrevo este poema desestruturando
O destino que no crepúsculo forçado
Não a quis deliberar sobre as lembranças fortuitas
Desta conjuntura canalha que me prostra!
Com os olhares acirrados pelo presente
Contemplo este horizonte que se imola acometido
Na pretensão de perceber a essência da vida
Que esta vida sem vida medita!
João Niove
Maputo, 10.10.2024