Por Afonso Almeida Brandão
(Ao Luís Munguambe Júnior com Amizade, esta reflexão de Esperança)
Algumas leituras recentes e variadas encaminham-me a crónica de hoje para o que tem sido, através dos tempos, a acção humana no Planeta. O que tento deixar aqui são apenas umas linhas genéricas sobre um tema (?) tão vasto e complicado.
Por comparações sucessivas (e sou eu que tento fazê-las, das leituras que recolho) retenho a informação de que o Séc. XX terá sido o de maior capacidade destruidora, muito mais do que todos o que o antecederam. Não tenho qualquer confirmação “oficial” deste facto porque em todos os séculos anteriores a chacina e a mortande são dificilmente enumeráveis. Mas há um pormenor importante, as armas e as técnicas destruidoras do nosso século anterior foram de uma amplitude enorme e cada vez mais progressiva, porque nunca tinha atingida uma tal eficácia de meios.
É surpreendente, claro, se observarmos isto pelo simples código humanista de um respeito normal pela sobrevivência dos outros. É que esse Século 20 foi também o da afirmação de princípios onde o respeito pelos outros foi o mais divulgado e discursado. E continuou a ser até ao seu final. Simplesmente, as agressões continuadas nas várias áreas do Globo não tiveram paragem. Podíamos supor que a Globalização e o estreitamento de relações criariam uma maior compreensão total. Mas a herança que nos ficou do Século Passado, ressaltou uma prática destruidora e persecutória que não esteve, de modo nenhum, em consonância com uma geral teoria da Paz que se foi defendendo um pouco por todo o lado. É a oposição, a que já tive ocasião de falar em alguns artigos anteriores que escrevi entre a Teoria e a Prática. As palavras não conferiram com os actos, convenhamos assinalar. E o que alguns disseram está em desacordo com o que outros fizeram.
Observa-se então outra contradição, enquanto, por um lado, o Séc. XX foi generoso em abertura e descobertas, estimulou em si contactos e desenvolvimentos, por outro lado veio a criar uma tal sofisticação de armamentos e de actividades destruidoras que não deram descanso aos mais fracos e desprotegidos. Entre as leituras que fiz, e de que dei conta ao Leitor no início nesta crónica, não me calhou ainda (e não sei se existe) uma enumeração factual desses terríveis acontecimentos, na sua totalidade. E de que só gradualmente nos fomos apercebendo, através da comunicação e da investigação, do que se passou, em matéria de sanha mortífera em pontos variados do Planeta. Aqui, a Globalização dos meios serviu, pelo menos, para sabermos um pouco melhor o que às vezes se passou tão longe. E de como foi possível passar-se (e se foi passando) na época mais vinculada ao discurso fraternal.
Esta visão geral de tantos acontecimentos desoladores foi enformando o meu lado um pouco céptico e atónito. Aindo hoje, já em meados do Séc. XXI, a verdade é que me contrange saber que o Homem, a par de numerosos movimentos positivos (e o Séc. XX foi assinalável nesse aspecto, temos de reconhecê-lo), pormenor que não podemos esquecer e que foi também prisioneiro dos piores aspectos da sua ambição, do seu seu egoísmo e da sua agressividade. Esteve à vista, aliás. Há quem se referiu tratar-se de uma constante da natureza humana, uma espécie de desvio incompreensível para tirar a vida a outrem. E nessas contradições (somos feitos de contradições, também sabemos) apelamos à Vida e semeamos a Morte com a mesma naturalidade, o que não deixa de ser um paradoxo. E há ainda um certo desconforto: nem sabemos se os Historiadores futuros, ou Investigadores de factos, terão condições mínimas para nos contarem (mais ainda: às Gerações Vindouras) o que fizemos nos últimos 100 anos. De como os fracos e os pobres, ou os indefesos, se viram privados de direitos básicos. De como a devastação e a perseguição foram — e continuam a ser neste Séc. XXI — ininterruptas e mais violentas. Basta ver o que está a acontecer há anos a esta parte, um pouco por todo o Mundo e mesmo aqui, entre nós, em Moçambique e também um pouco por toda a África Austral. Guerras e Violência que tendem a persistir.
Contudo, o que nos vale é que existe ainda (em quem exite, claro está!) UMA VONTADE FIRME DE RECUSAR, como se pode, tarefas de destruição que são, ao fim e ao cabo, jogo de submissão e de domínio. Hoje mais do que nunca, há que dizê-lo com frontalidade.
E a verdade é que neles fomos vivendo e temos vivido desde sempre — e contra eles vamos continuar, também, a tentar Viver — se é que ainda há Esperança e Bom Senso na Humanidade e sobretudo naqueles que governam o Mundo em que habitamos, cada vez mais transformado num verdadeiro caos imprevisível...