As minhas reflexões
Ah, Portugal, o bastião da democracia e dos valores iluminados, sempre pronto a erguer a bandeira dos direitos humanos… desde que isso não interfira nos negócios. Quando se trata de Angola e Moçambique, nossos irmãos das ex-colônias, parece que o presidente Marcelo Rebelo de Sousa segue um mantra peculiar: “Democracia é ótima… mas só se não atrapalhar o fluxo de dinheiro.”
O que está em jogo não é só política — é um grande teatro de conveniência e interesses econômicos ocultos.
Lá estava Marcelo, em Angola, em agosto de 2022, como um verdadeiro mediador internacional — ou pelo menos é o que ele queria que pensássemos. Encontrou-se com Adalberto Costa Júnior, líder da UNITA, e outros membros da oposição. Mas, em vez de apoiar o legítimo questionamento de uma eleição cheia de “detalhes curiosos”, Marcelo aparentemente agiu como aquele amigo inconveniente que aparece só para jogar um balde de água fria nos seus planos de revolução. Foi mais ou menos isso que ele disse: “Pessoal, calma, 2027 tá logo ali!” A mensagem era clara: aceitem a derrota (mesmo que suspeita) agora, e quem sabe o MPLA te dá uma chance de ganhar daqui a alguns anos. Porque contestar fraude eleitoral? Isso é coisa de quem não sabe esperar!
Bom, não vamos ser ingênuos. Portugal precisa que Angola fique quietinha, com o MPLA no comando, para manter os lucros fluindo. Afinal, grandes empresas portuguesas dependem da estabilidade política… ou da “estabilidade” que convém ao lado certo da balança. Essa postura não é acidental. É o resultado de uma diplomacia pragmática que valoriza lucros acima de princípios.
Agora, para Moçambique, onde a coisa é ainda mais “divertida”. Aqui, Marcelo nem fingiu. Antes mesmo de o povo conseguir engolir as denúncias de fraude eleitoral e o circo todo montado pela FRELIMO, ele já estava lá enviando aquele clássico parabéns de chefe de Estado: “Boa, Nyusi, ganhou mais uma vez, que surpresa maravilhosa!”
Portugal tem cerca de 40.000 cidadãos vivendo em Moçambique, e é óbvio que qualquer coisa que ameace esse grupo — ou os contratos milionários envolvendo recursos naturais — vai ser ignorada. Melhor deixar a fraude rolar solta do que arriscar um desconforto econômico, certo? Claro que reconhecer um governo acusado de manipulação eleitoral é mais fácil do que se comprometer com ideais democráticos. Afinal, a FRELIMO está no poder há décadas e sabe manter o jogo como Portugal gosta.
Agora, vamos ser justos: Portugal se vende como o defensor dos valores democráticos e dos direitos humanos no palco internacional. Mas em Angola e Moçambique? Esses valores se perdem como moedas no fundo do sofá. Afinal, como dizer “não” a regimes que garantem acesso a recursos naturais e mercados vantajosos?
Não se engane: Portugal ainda olha para Angola e Moçambique como aquelas galinhas dos ovos de ouro. Investimentos aqui, contratos acolá… e claro, tudo com uma boa dose de privilégios herdados da época colonial. Se os líderes africanos resolverem cancelar os contratos herdados do colonialismo e estabelecer novas regras, Portugal vai entrar em pânico. “Como assim queremos ser tratados como qualquer outro país? Que ingratidão!” Se Moçambique e Angola começarem a usar seus recursos para beneficiar o povo em vez das empresas estrangeiras, Portugal vai perder o sono.
O colonialismo pode ter acabado no papel, mas suas garras ainda estão bem cravadas na economia e na política desses países.
Marcelo Rebelo de Sousa, o grande defensor da democracia… só quando ela não atrapalha. Em Angola, ele foi o conselheiro do “esperem sua vez”. Em Moçambique, o aplauso rápido ao presidente reeleito, mesmo com toda a bagunça eleitoral, mostra que Portugal sabe muito bem jogar o jogo da conveniência.
O recado é claro: valores democráticos são ótimos para discursos em cúpulas internacionais. Mas na hora de proteger interesses econômicos, Portugal mostra que ainda sabe como lidar com suas “colônias”. Afinal, democracia é só uma palavra bonita quando o bolso está cheio.
Observador
Henda Ya Xiyetu