POR LAZARO MABUNDA
"Duvula, duvula (dispare, dispare)"
Cantam alunos de Chibuto
Quando se perde simpatia de um povo pacífico mas guerreiro de Gaza, "já não há nada".
Recuemos para pós conferência de Berlim, 1884/1885. Esta conferência definiu a política de partilha de África e mais tarde a Política de Ocupação Efectiva dos territórios pelas colónias. Em 1890, Portugal, em crise, recebe o ultimato inglês devido ao seu projecto de Mapa Cor-de-Rosa que chocavam com interesses britânicos. Na mesma altura, Portugal é pressionado e ameaçado por Cecil Rhodes a ocupar efectivamente o território moçambicano. Os inglês tinham intenções de ocupar o sul de Moçambique, considerado reserva de mão-de-obra para a África do Sul.
Perante a ameaça e em crise financeira aguda, Portugal tinha que ocupar efectivamente Moçambique, mas o seu maior desafio era o Império de Gaza de Ngungunhane. Derrotar monstruoso império de Gaza era o primeiro grande pesadelo ao projecto de ocupação efectiva de Moçambique. Foi assim que Portugal realizou em 1895 a primeira maior expedição e batalha militar pela ocupação territorial em Moçambique.
Mouzinho de Albuquerque reconheceu que o povo do império de Gaza era o mais bravo e guerreiro, pelo que era fundamental derrotá-lo e substituir as estruturas das lideranças tradicionais para o enfraquecer pelos seus fantoches.
Foi a partir de Gaza que surgiram as ideias unir os movimentos de Libertação Nacional dispersos para conseguir derrotar o colono. As maiores perseguições levadas a cabo pela PIDE foram contra a elite de Gaza.
Em 1968, o inspector administrativo do Ultramar reportou, no seu relatório, que era preocupante que grande número dos dirigentes dos movimentos contra a posição de Portugal em Moçambique fosse do "Concelho de Gaza". Nesse relatório enumera vários elementos das famílias Muthemba, Mondlane, Mabote, Chissano, entre outras (Boletim AHM, no 18, 1995).
Ora, quando uma criança de Gaza desafia alguém armado com gritos: " duvula, duvula (dispare, dispare)", é porque acabou, "já não nada". Nunca se pode perder o carinho de matxangana. O matxangana é o último a zangar, porque raramente se zanga. Quando se zanga não mede consequências.
"Duvulaaaa, duvula", excelente canção, típica de gazenses. Inventada na hora para desafios os terríveis policias moçambicanos.
Posso garantir-vos que os baleamentos mortais que acontecem em Maputo e Nampula, em Gaza não irão durar sequer uma semana e não será baleados mortalmente mais de uma dezena de pessoas sem que todos os governantes fujam da província. Gaza é Gaza.
"Duvulaaaa, duvula