- PALAVRAS INICIAIS: CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DAS NARRATIVAS OFICIAIS EM MOÇAMBIQUE
Constantes esforços dos governos africanos foram e continuam sendo feitos na tentativa de controlar o passado, controlar as memórias e produzir narrativas oficiais. Por um lado, busca-se ocultar ou minimizar o significado de uma série de acontecimentos e mudanças; e, por outro lado, busca-se atribuir grandiosidade a diversos feitos dos governos e dos partidos do poder que aparentemente são banais. Não cabe dizer simplesmente que as narrativas oficiais são mentirosas, mas sim que elas não dão conta de toda complexidade histórica e que invariavelmente buscam legitimar as ações dos governos e dos partidos do poder.
As tentativas de controlar as memórias históricas e criar narrativas oficiais em Moçambique são problematizadas na literatura especializada (BORGES COELHO 2019; DINERMAN 2006; SCHAFER 2007). É importante dialogar principalmente com as referências que criticam as narrativas oficiais da Frelimo (a Frente de Libertação de Moçambique).2
A Frelimo foi um movimento que participou da luta de libertação de Moçambique e tornou-se um partido político que governa o país desde a sua independência, em 1975.3
Primeiramente adotou uma orientação socialista com regime de partido único. A partir da década de 1980, passou a adotar as medidas neoliberais impostas por instituições financeiras internacionais e, após conflitos armados e longa negociação, reconheceu a Renamo (a Resistência Nacional Moçambicana) como um movimento legítimo que contava com ampla base de apoio entre as populações camponesas (ALDEN 2001; GEFFRAY 1991).4
Onde encontramos as narrativas oficiais da Frelimo? Pode-se encontrar as narrativas oficiais nos meios de comunicação controlados pelo governo da Frelimo, principalmente nas referências às celebrações das datas históricas, nos textos e livros dos intelectuais ligados à Frelimo, nos discursos oficiais dos governantes em cerimônias cívicas e inaugurações de monumentos, nos documentos oficiais da Frelimo, e também nos manuais escolares (FEIJÓ 2010; RECAMA 2006).
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