Presidente moçambicano nega ter sido contactado por um "amigo comum" de Mondlane. Sobre o apelo deste a que cada polícia que mate seja morto, diz que não é digna de "um homem de inteligência média".
O candidato presidencial às eleições moçambicanas, Daniel Chapo, secretário-geral interino da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder) participa nas cerimónias do Dia da Paz, na Praça dos Heróis Moçambicanos, em Maputo, 04 de outubro de 2024. O país celebra neste dia 31 anos da assinatura do Acordo Geral de Paz de Roma, que pôs fim a 16 anos de guerra civil em Moçambique.
Daniel Chapo, que tomou esta semana posse como Presidente de Moçambique depois de um período de tumultos pós-eleitorais que já mataram mais de 300 pessoas, negou que esteja em contacto com o opositor e autoproclamado “Presidente do povo”, Venâncio Mondlane.
“Ouvi dizer destes contactos, mas este amigo comum não me contactou”, garantiu o Presidente numa entrevista à TVI, a partir de Maputo. “Mas tenho a certeza absoluta que me vai contactar e a partir daí vamos saber qual é a mensagem e em função dessa mensagem vamos trabalhar para pacificar o país.”
Venâncio Mondlane afirmou esta semana ao New York Times que estaria em contacto com o Presidente da Frelimo através de um “amigo comum”, através do qual abriu “um diálogo” com a proposta de várias medidas como a construção de 300 milhões de casas para os mais desfavorecidos.
Dias depois, Mondlane fez um vídeo em direto nas suas redes sociais onde apresentou uma série de propostas para os primeiros 100 dias do governo, que incluiam ideias como o fim do IVA em certos produtos, das portagens, das inspeções de carros e um corte de 50% no preço da luz. Mas a proposta mais impressionante da comunicação foi um apelo claro à aplicação da bíblica “Lei de Talião”, exortando os moçambicanos a matarem cada polícia que mate manifestantes — o que aconteceu uma vez mais no dia da tomada de posse, com a polícia a disparar diretamente contra manifestantes pacíficos, como testemunhou o Observador em Maputo.
“[Por] Cada elemento da população assassinado por um elemento da UIR [Unidade de Intervenção Rápida da polícia] automaticamente paga-se na mesma moeda: esse elemento da UIR é varrido da existência, vai para o inferno. É assim que temos de fazer”, declarou Venâncio. “Chamem-me agitador. Chamem-me o que quiserem. O povo está a ser morto, sequestrado. É assim que vai ser. Lei de Talião. Toma lá dá cá. Olho por olho, dente por dente”.
Questionado pela TVI sobre se tenciona acolher alguma das propostas feitas pelo adversário, Daniel Chapo classificou-as como “um ultimato”. “A população está orientada a matar polícias”, disse, antes do remate subtil contra Mondlane: “Não sei se isso faz sentido para um homem de inteligência média.”
Sobre o facto de Venâncio ter classificado o envio por Portugal do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, à tomada de posse de Chapo como o envio de uma “terceira linha”, o empossado Presidente moçambicano disse ter sentido que foi uma presença de “primeira linha”. “O primeiro-ministro [português] também fez questão de ligar para felicitar-me e deu todas as garantias necessárias se Moçambique precisar de um apoio neste processo em que nos encontramos de diálogo e pacificação.”
OBSERVADOR(LX) – 18.01.2025