ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Peço alguns minutos de sua atenção para conversar a respeito da Defesa do nosso país.
A Defesa de Moçambique e a responsabilidade das nossas Forças Armadas são tema e devem ser sempre. Moçambique é o país + pacífico de toda a região de África Austral e do mundo, certamente é único país nesta região e no mundo que “ascende” sem imperar não tem, nunca teve e não terá “aspirações” de hegemonia, mas essa nossa 'orientação' para a paz não nos “desobriga” da responsabilidade de nos defender, pelo contrário, aumenta nossa responsabilidade por duas [2] razões fundamentais:
A primeira razão é que precisámo-nos defender para puder dizer não, mas também para “abrir um caminho” na região e no mundo um caminho rebelde, um caminho que eventualmente “resista aos interesses”, as ideias e as ordens/desordens das grandes Potências, precisamos ter estudo.
A segunda razão é que, “vivemos no mundo” em que os “beligerantes” e os “vizinhos” estão “fortemente armados” até aos dentes e não nos interessa viver numa região ou mundo em que só os 'meigos estão desarmados' que se armem, destarte um Projecto de Defesa do país deve ter três [3] grandes eixos fundamentais:
O primeiro eixo é a “construção” das nossas capacitações de Defesa: capacitações baseadas no ideário que é a Estratégia Nacional de Defesa [END], estas capacitações e este ideário precisam partir de algumas realidades e a circunstância que definem a tarefa da Defesa do nosso país. A primeira circunstância é a “escassez” dos nossos recursos, precisamente porque nossos recursos económicos e até humanos são “escassos”, assim precisamos primar pela inteligência e pela audácia.
O segundo eixo é a “vastidão” do nosso Moçambique e de suas fronteiras, as Forças Armadas de Moçambique não podem estar “omnipresentes” a presença precisa necessariamente ser selectiva.
O terceiro eixo é que “nós não temos inimigos” na região e no mundo, exactamente porquê não pretendemos imperar contamos com uma simpatia praticamente mundial, logo é difícil organizar a Estratégia de Defesa no país como ele frequentemente se organiza em outros países em cima de [hipótese] de emprego da força militar contra este ou aquele inimigo. No entanto, a nossa “Doutrina Militar” precisa ser organizada com base em capacitações, em capacitações sem [hipótese] de emprego definida.
Destarte, qual é então o Projecto Defesa Nacional [PDN] que responde adequadamente a essas circunstâncias?
O primeiro elemento é o 'foco' em monitoramento. Monitoramento a partir da terra e do espaço de tudo que ocorre no território nacional e em nossas fronteiras daí a grande “pertinência” de desenvolver o 'foco' em monitoramento, monitoramento, a partir da terra e do espaço de tudo o que ocorre no território nacional e em nossas fronteiras, daí a “grande importância” de desenvolver as nossas capacitações de visualização [observação] do país a partir do espaço.
O segundo elemento é a importância da “mobilidade”, uma vez que, as Forças Armadas de Moçambique não podem estar presentes em todo lugar precisamos puder deslocar as nossas Forças Armadas e sobretudo nossas Reservas Estratégicas + qualificadas para qualquer lugar do país rapidamente.
O terceiro elemento é a importância da “elasticidade”. Em circunstâncias normais precisamos duma Força relativamente 'reduzidas', porém altamente qualificada, mas se houver um conflito [hoje] em condições que não podemos prever nós precisamos puder rapidamente “espalhar” essa Forças. Portanto, contar com uma “grande reserva” uma “reserva de jovens moçambicanos” que receberam treinamento militar básico e que em caso de necessidade se possam “converter em soldados” na defesa do nosso país.
Destarte, estes três [3] eixos e imperativos; monitoramento, mobilidade e elasticidade são “acessórios” de um quarto [4] elemento ainda + fundamental; a “flexibilidade”. Repare, comparemos dois tipos de Organizações militares: a Organização tradicional de Comando e Controle em que há uma 'hierarquia muito rígida' em que o poder de iniciativa do praça é muito limitada no campo de operações e as Forças irregulares como as Forças de Acção Estratégica Rápidas do nosso Exército que tem qualificações superiores e cultura militar para reinventar o plano de combate no teatro de operações, sem perder as características de hierarquia de coordenação e de movimento para frente, que são próprias e necessárias da Organização militar. Qual é então o caminho do avanço? É que todas as Forças Regulares pouco a pouco ganhem as características da Força irregular, os seus atributos de flexibilidade radical sem perder o poder de coordenação e de hierarquia e sem abdicar do imperativo de escala.
É um compromisso quê se manifesta com maior clareza com respeito a Força Terrestre [o Exército]. Todo Exército deve ser pouco a pouco reorganizado, a partir do módulo de Brigada para ganhar essas características superiores, características de “doutrina e de capacitação” apoiadas pelo instrumental tecnológico necessário, mas os mesmos 'atributos' devem ser também dominados com as suas características próprias pela Marinha de Guerra e pela Força Aérea.
Este é o primeiro grande eixo do PDN de que precisamos já antecipado com clareza pela EDN transformada em lei, mas estes eixos centrais; a flexibilidade, a flexibilidade radical, o avanço na audácia e na inteligência e portanto nas capacitações operacionais tem que ser complementado por dois [2] outros eixos de um PDN.
O primeiro eixo construção do Complexo Industrial Militar. Com a “epifania” dos recursos naturais é preciso partir para a construção do Complexo Industrial Militar, em todo o mundo a Indústria de Defesa é um pouco de acção tecnológica e as tecnologias mais avançadas sempre têm uso dual; civil e militar, também terá que ser para nós, destarte aproveitemos esta “afinidade natural” entre a vocação militar e a vocação civil do vanguardismo tecnológico e produtivo.
O segundo grande eixo é o da Estratégia Nacional de Profissionalização das Forças Armadas [ENPFA] como fizeram e/ou fazem muitos países no mundo. As nossas Forças já mais devem ser uma parte da nação pagas pelas outras para defende-las. As Forças Amadas devem ser a própria nação em armas, a cidadania toda em armas, todas as classes sociais, não por exemplo, um Exército de pobres, mas valentes pagos pelos ricos para “sustentar” o escudo da Defesa.
Como se pode ver, o primeiro eixo do Projecto de Defesa é portanto a cultura da “flexibilidade radical“, o segundo eixo é o da construção do Complexo Industrial da Defesa”, da “acção tecnológica e produtivo”, o terceiro eixo é o “estreitamento dos vínculos” entre as Forças Armadas e a nação.
É verdade que não precisamos em condições de paz aproveitar todos os jovens moçambicanos que seriam sujeitos ao Serviço Militar Obrigatório [SMO], contudo os jovens quê forem “dispensados” do SMO devem segundo a proposta acolhida na END ficar sujeitos a um Serviço Social Obrigatório [SSO].Ou seja, devem receber treinamento militar básico para “compor uma reserva” que pode ser utilizada em condições de confrontação, àquele imperativo de “elasticidade” aqui me referia anteriormente e, cada um de acordo com sua profissão deve participar na juventude da “construção” do país de preferência numa região do país deferente da região de que se origina.
Esta, a meu ver, é uma das melhores maneiras de afirmar a “coesão nacional” e de fazer com que moçambicanos de todas as classes se encontrem e descubram o país ainda em sua juventude, infelizmente não conseguimos ainda 'transformar' este [preceito] legal em prática efectivo, mas… está lá na Constituição da República.
Certamente, esta é a END de que Moçambique precisa, subjacente a ela está um grande “compromisso histórico” que ainda não executamos em Moçambique, pela primeira vez, o país teria uma política séria de Defesa Nacional. Política séria significa quê os civis “não tratariam o militar” como elemento potencialmente perigoso para ser aplacado, distribuindo a eles de vez enquanto alguns dos equipamentos que pedem, mas sem ter qualquer interesse na “construção real” de nossa Defesa Nacional.
A contra parte a este “compromisso” dos civis com a Defesa Nacional não como aplacamentos militares é que, os militares de facto aceitariam pela primeira vez a liderança civil da Estratégia de Defesa este é um grande imperativo da construção de Moçambique.
Afronto, que a Defesa vire tema do debate nacional e que cada um de nós abrace essa causa não é apenas para engrandecer Moçambique, mas para engradecer cada moçambicano.
Manuel Bernardo Gondola
Maputo, [21] de Janeiro 20[25]