A advogada moçambicana Lígia Dias Fonseca, filha do histórico político Máximo Dias e ex-primeira-dama de Cabo-Verde, teceu críticas ao discurso de posse do Presidente Daniel Chapo. Em uma publicação no Linkedln, Fonseca acusou o novo chefe de Estado de ignorar as reivindicações do povo moçambicano e de continuar a sustentar um regime marcado pela desigualdade, impunidade e repressão.
Para Lígia Dias Fonseca, o discurso de Chapo, que tomou posse no dia 15 de Janeiro como o quinto presidente da República, não apresentou nenhuma, compromisso concreto com mudanças estruturais ou soluções para a crise que assola o país.
“Nada acontece em Moçambique que nos faça conseguir ter alguma esperança num futuro próximo”, afirmou, destacando a ausência de indicações ou intenções que demonstrem vontade de mudar o “regime de favorecimento e bem-estar de uns poucos à custa do contínuo empobrecimento do povo”.
Fonseca criticou também o tom de indiferença do discurso de investidura, que, segundo ela, ignorou os gritos de contestação popular que ecoam desde as manifestações contra os resultados eleitorais de 9 de Outubro.
“Ouvir todos ouvimos porque o barulho da indignação tem sido no mais alto volume. Mas escutou? Percebeu? Se sim, o que percebeu?”, questionou a advogada.
A ex-primeira-dama classificou como “cínico” o momento de silêncio promovido por Daniel Chapo durante a sua posse, em homenagem às vítimas das manifestações, do ciclone Chido e do terrorismo em Cabo Delgado. Para Fonseca, esse gesto simbólico não reflecte a responsabilidade do Estado nos eventos trágicos que resultaram em inúmeras perdas humanas.
“Após o momento de silêncio, devia o empossado ter a nobreza de, em nome do Estado, pedir desculpa a cada mãe, pai, filha, filho, marido, esposa que viu o seu familiar morrer pela acção imprudente e criminosa das forças de segurança do Estado”, enfatizou.
Esta, defendeu ainda que Chapo deveria ter anunciado, naquele momento, a abertura de um inquérito e independente para apurar as responsabilidades dos agentes envolvidos nas repressões violentas, bem como das chefias que ordenaram tais acções. “Faltou a Daniel Chapo, logo na primeira hora, a coragem para abertamente se apartar do status quo”, lamentou.
As declarações de Lígia Dias Fonseca seguem uma linha de críticas que já vinha dirigindo ao governo moçambicano. Em 11 de Janeiro de 2025, poucos dias antes da posse de Daniel Chapo, Fonseca publicou um texto no LinkedIn em que acusava Filipe Nyusi, ex-presidente da República, de ser um “presidente assassino”.
Segundo Fonseca, Nyusi será lembrado pela sua indiferença à vida dos cidadãos e pelo aumento de mortes evitáveis durante o seu mandato. “Nunca houve tantos assassinatos em Moçambique, perpetrados por agentes do Estado ou verificados pela ausência total de protecção aos cidadãos (no Norte do país), como durante o mandato de Filipe Nyusi”, escreveu.
Já em Novembro de 2024, Lígia Dias Fonseca publicou uma carta aberta direccionada à então primeira-dama Isaura Nyusi, pedindo que usasse sua influência para pressionar o ex-presidente a cessar a repressão violenta contra os manifestantes e iniciar um diálogo inclusivo com as forças sociais e políticas.
Contudo, Daniel Chapo assumiu a presidência em meio a fortes contestações sobre a legitimidade das eleições de Outubro de 2024, amplamente acusadas de fraude em benefício do partido Frelimo, no qual é Secretário-Geral. (Bendito Nascimento)
INTEGRITY – 21.01.2025