Por Edwin Hounnou
Os diversos governos de Portugal, dominados pelos partidos socialistas e social democratas têm sido muito condescendentes para com o regime ditatorial do partido Frelimo, fechando os olhos a atropelos à liberdade e justiça social. Para refrescar a memória de muitos, vale aqui recordar a falcatrua dos Acordos de Lusaka, entre o governo português e a FRELIMO.
Os Acordos de Lusaka conduziram Moçambique a independência, no dia 25 de Junho de 1975. Para quem anda atento, apercebe-se que o então governo português deu, de bandeja, Moçambique à FRELIMO. Isso permitiu que a FRELIMO, bastante arrogante, cometesse uma série de desmandos, violência gratuita, a seu gosto tanto contra as populações moçambicanas assim contra membros das comunidades de portugueses.
Parecia ter havido dois acordos entre a FRELIMO e a potência colonizadora. Um público, aplaudido por todos e outro secreto que permitia à FRELIMO prender com a colaboração e cumplicidade das autoridades portuguesas. Os guerrilheiros da FRELIMO e a PSP (Polícia de Segurança Pública) vasculhavam as casas das pessoas, prendiam os suspeitos, entregavam-nos à FRELIMO. Aviões da Força Aérea Portuguesa levavam os presioneiros para Dar-Es-Salam, capital da Tanzânia.
O governo provisório de Portugal e a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), assinaram, a 07 de Lusaka, capital da Zâmbia, um acordo do mal que asfixiava Moçambique. O governo português entregou Moçambique à FRELIMO para que dele fizesse o que entendesse.
Todos os presos, chamados reaccionários, foram submetidos a julgamentos populares e um pouco antes da independência, foram levados para o interior de Moçambique onde muitos foram torturados e queimados vivos, como foram os casos do reverendo Uria Simango, Padre Mateus Gwengere, Mzee Lázaro Nkavandame, Dra. Joana Simeão. Dr. João Unhai, entre outros. Numa palavra - a FRELIMO tinha carta branca para matar.
Depois da proclamação da Independência, as prisões arbitrárias, fuzilamentos tanto em comícios populares assim pela calada da noite, sob falsos comunicados de evasão de presos, prosseguiram. Estava instalado um regime ditatorial muito pior que o regime colonial. Para o nosso caso, não foi a independência que o povo obteve, houve, tão-somente, uma troca de colonos. Saíu o colono branco, entrou o colono preto.
O novo colono, revestido de pele de homem novo, nunca chegou a ser melhor que o colono que chegou de caravelas. O colono de cor branca nunca promovia comícios populares para fuzilar presos. O colono de cor preta recrutava idosos, mulheres e crianças, para irem assistir como se mata o inimigo, deixando o público mergulhado em delírio. Era o preço da "independência total e completa" que os moçambicanos recebiam da bolada entre o governo português e os libertadores da nossa pátria.
Volvidos mais de 50 anos depois dos acordos que permitiram a FRELIMO dispor-se do povo e de Moçambique como se de um curral de animais, apercebemo-nos de que a libertação nacional circunscreve-se, apenas, numa troca de paträo branco pelo patrão preto. A independência pela qual o povo abraçou a luta e por ela se bateu era muito mais profunda. Nada tinha com o que, mais tarde, veio a acontecer entre nós.
Portugal daqueles tempos contribuíu para a tragédia do nosso país por não ter deixado o poder nas mãos do povo. Às pressas, o governo português deixou o destino dos moçambicanos nas mãos da FRELIMO. O governo português nem sequer perguntou ao povo moçambicano, através de um plebiscito por quem desejaria ser governado.
A partir do momento em que o então governo português entregou Moçambique à FRELIMO, as portas da paz, do desenvolvimento e justiça social se fecharam. O país mergulhou-se em guerras.
A independência, nos moldes em que nos chegou, só podia produzir desentendimentos no seio do povo. A independência traz imensas vantagens à Frelimo que nunca se preocupou que a sombra da liberdade chegasse a todos, a intolerância e violência viraram o pão de cada dia.
A Frelimo assenhorou-se do país e dos seus recursos. O povo foi excluído da mesa onde decorre a festa da independência. O erro de tudo isso começou pelos Acordos de Lusaka. Resultou da bolada entre a FRELIMO e a equipa do Dr. Mário Soares, chefe da equipa do governo português, que entregou Moçambique à FRELIMO.
A Frelimo não se lembra de que Moçambique pertence ao povo e não aos seus dirigentes. Os recursos naturais passaram a pertencer às elites da Frelimo. As minas de grafites, de rubis, areias pesadas, de ouro, rubis passaram a beneficiar às elites da Frelimo e a seus apaniguados. As eleições foram transformadas em brincadeiras de adultos. A Frelimo por mais que não seja votada, ganha sempre, por ter os órgãos de gestão eleitoral e a polícia a apoiá-la. A Frelimo é um mal para o país.
Portugal, desta vez, ficou do lado de Moçambique. Não se fez representar na investidura dos usurpadores do poder, dos que fazem fraudes para se perpetuarem no poder. Parabéns, Parlamento Português pela coragem! Parabéns, Portugal por ter compreendido a situação injusta por que o povo moçambicano está a passar!
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 15.01.2025