Afonso Almeida Brandão
A vida em sociedade em Portugal está de há uns anos a esta parte (e não foi quando apareceu a televisão) marcada indelevelmente pela Comunicação Social.
Ora, uma sociedade não pode, nem deve, estar dependente, ou condicionada — e é isso, fundamentalmente o que está em causa — por um grupo profissional, independentemente de quem os orienta ou lhes fixa objectivos. Sim, porque essa coisa de haver uma imprensa livre e independente não passa de uma treta de idiotas úteis, armados em democratas. Infelizmente. Daí a necessidade de haver leis estritas e assisadas, que regulem a actividade da comunicação social. E isto não tem nada a ver com “censura”. A situação atingiu o seu paroxismo, internacionalmente, quando no anterior mandato de Donald Trump como Presidente dos EUA a maioria das estações televisivas americanas deixou de transmitir uma fala sua ao país. Cortaram-lhe o pio… Isto passou-se no mundo (ocidental), como se tratasse da coisa mais natural do mundo… (representando, isso sim, a maior cena de censura alguma vez efectuada, e às escâncaras!).
Vejamos o que se passa por cá — e também um pouco por Moçambique — onde há órgãos de informação a mais, jornalistas a mais e comentadores a mais — com o resultado de quase não servirem para nada, a não ser emitir ruído 24 horas por dia; um autêntico massacre, temos de reconehecer. Como também há licenciados em Jornalismo a mais. Devia haver “números clausus”, como para a maioria das profissões. A lei da oferta e procura, neste caso, não regula coisa nenhuma…
Quem ligar à palavra escrita, oral e/ou visual, em Portugal (e porque não a Moçambique também?), rapidamente se apercebe que a actividade mais importante é o futebol! De facto, não é, e está longe de o ser, mas o que decorre do que por aí se escreve, diz e fala, nos jornais (que poucos lêem), na rádio (que já poucos ouvem) e na TV, cujos noticiários — de que cada vez maior número de cidadãos se desliga, pois ficam à beira de um ataque de nervos — é que “de facto” e “de jure”, a vida nacional decorre à volta do futebol. Ora o futebol é apenas um desporto (e há dezenas de desportos que merecem ser noticiados) que virou um negócio de mau coturno, apoiado por alguma massa associativa que se comporta, frequentemente, como se fossem uma “associação de malfeitores”, e os “media”, em vez de circunscreverem a coisa à sua real dimensão, gastam uma incrível quantidade de cera a alimentar as situações mais apalermadas possível, onde a imbecilidade campeia.
Compare-se, por exemplo, com o que aconteceu com a mudança de Chefe de Estado-Maior da Armada, evento que bordejou o anterior, pois quase passou despercebido, donde se pode concluir que um novo Comandante desta nobre Instituição (que graças a Deus e aos homens, também comete erros) vale bem menos que o avançado-centro do Alguidares Futebol Clube…
Todos os dias se gastam rios de tinta, de som e de imagem para relatar coisas supérfluas (que interesse tem saber-se que houve um terramoto no norte da China onde morreram cinco pessoas e um gato?); ou empolar rotinas por interesse de baixa política/ideologia partidária, como por exemplo a operação policial no Martim Moniz, cujo estertor mais comovente foi um carta protesto de 25 cidadãos de ideias mentalmente perturbadas (sempre os mesmos) a que chamam “personalidades”; ao mesmo tempo que se deixa cair — certamente para não denunciar o descalabro da política seguida — o que se está a passar com o consumo e tráfico de droga! Mais comentários a título de comparação... para quê?!