Moçambique vive uma situação dramática desde 9 de Outubro de 2024, quando foram realizadas eleições presidenciais, legislativas e provinciais.
As eleições, consideradas pela generalidade dos observadores, as mais fraudulentas da história da democracia moçambicana (fraudes que se iniciam desse logo no processo de recenseamento eleitoral, e prosseguem no acto eleitoral, pelo enchimento das urnas, o sumir de editais originais sob guarda dos órgãos eleitorais, manipulação estatística dos resultados eleitorais em que os dados de uns, passam para os outros concorrentes e vice-versa, resultando daí falsos vencedores e falsos vencidos, e cujos resultados são manipulados por todos os órgãos eleitorais, STAE´s, CNE, Tribunais, Conselho Constitucional, controlados por parte de quem está no poder) têm permitido à Frelimo sair sempre vencedora com maioria absoluta na Assembleia da República, e nas presidenciais, e tornando impossível a oposição chegar ao poder em Moçambique, como sucede noutros países africanos (Zâmbia, Malawi, Botswana).
Adianto dois exemplos de como as fraudes funcionam: no recenseamento eleitoral, em Gaza, o bastião “changane” da Frelimo, os dados do censo, apurados e tornados públicos pelos órgãos eleitorais, correspondiam à população projectada pelo INE/Moçambique apenas para o longínquo ano de 2040. No que toca ao enchimento das urnas e à manipulação dos editais, um singelo e paradigmático exemplo ocorrido nas recentes eleições de 2024: trata-se do edital da assembleia de voto, 071835-01, que funcionou na Escola Primária de Lissico, no interior do distrito do Zumbo, província de Tete, edital oficial e produzido pelo respectivo STAE. De acordo com este edital, nessa assembleia de voto foram recenseados e inscritos 763 eleitores. No dia da votação, votaram 769 eleitores, ou seja, mais 6 do que os inscritos. Ninguém faltou, ficou doente ou se ausentou. Todos e mais 6 votaram em Daniel Chapo!
Os observadores internacionais (UE e outros), dados os múltiplos interesses geoestratégicos e nos recursos naturais dos seus países em Moçambique e das alianças com o poder da Frelimo, diante de fraudes tão evidentes como estas, limitam-se sistematicamente a falar de “irregularidades” que não invalidam, em seu entender, os resultados eleitorais, conquanto desta vez não tenham ousado, como em pleitos eleitorais anteriores, considera-las como “transparentes, livres e justas”.
Sucede que desta vez, surgiu um candidato presidencial, Venâncio Mondlane (VM) que perante um processo gritantemente fraudulento, reivindicou a vitória nas eleições presidenciais assumindo em voz alta o desfasamento entre o poder político moçambicano – monopolizado há quase 50 anos pela Frelimo – e as aspirações da população do país, composta em larga maioria por jovens, que vive na pobreza e sem perspectivas de futuro, em contraste com o enriquecimento da elite frelimista no poder.
Na sequência das manifestações pacíficas e paralisações convocadas por VM, que se alastraram da capital Maputo a outras cidades e vilas do país, a reacção do Governo e das FDS e policiais foi extremamente violenta, pautada por graves violações dos direitos humanos que já provocaram mais de 300 mortos e milhares de feridos¸ execuções sumárias, perseguição e assassinatos de membros de partidos políticos da oposição.
Diante do caos instalado em Moçambique, por força de um governo que já não representa a vontade soberana do povo moçambicano, mas sim a tentativa de perpetuação de um regime que continua a oprimir, silenciar e excluir os moçambicanos, qual tem sido a posição de Portugal e dos seus dirigentes políticos?