ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Primeiro, eu acho que político não devia ser profissão; política não pode ser carreira que eu tenho que me manter ali, porquê…se não… vou ficar desempregado, porque ai… isso “estimula” justamente a pior política com (P) minúsculo que é aquela que faz com que as pessoas tenham essa “visão” de que a política é tudo ladrão!
De facto, eu não acredito nesse “modelo” de política profissional, eu acho que, isso é uma “excrescência”! Estou na política, mas eu sou professor, sou médico, sou engenheiro…não tenho mandato electivo, isso aqui, não é a política que me “sustenta”, o que me “sustenta” é o meu trabalho de professor, de economista, de escritor… eu acho quê deve ser assim.
Existem muitos “privilégios” entre os políticos quê 'legitimam' com que as pessoas tenham essa visão, desde o “privilégio salarial”, desde o monde outro de benefícios no executivo, no legislativo se tem, por isso, eu tenho muitas dificuldades de “condenar” a pessoa que pensa dessa forma porquê tem uma base na realidade.
Mas, ai é que entra um ponto. O problema é a generalização; uma coisa é você falar, bom…a “estrutura” do sistema político moçambicano está errada e… nós temos que mudar isso, temos que enfrentar os “privilégios” que existem sim na classe política, nós temos que pensar política como uma “vocação” [missão]; política tem que ser a realização do que você acredita como seu projecto: eu tenho ideais, eu tenho sonhos, tenho visões de sociedade e a política é um “instrumento” de tornar essas visões possíveis.
Agora, quando a partir de um “problema crónico” no sistema político as pessoas começam a falar “háaa…é tudo igual, nada presta” o resultado disso é uma “descrença”, uma antipolítica generalizada e…qualquer 'aventureiro' pode se vender como o 'salvador da pátria': “já que os políticos não prestam eu estou aqui para salvar vocês”.
Repare, a demagogia + estreita e personalista ela surge da 'negação da política'; não tem saída com a 'negação da política’. Nós temos problema de “privilégio” na política? Temos! Mas, a forma de resolver, de acabar com esses “privilégios” e de “construir” uma política diferente em Moçambique é através da política, não é 'negando a política'. Não só, a política institucional e parlamentar, porque eu acredito que a política não é só eleição de cinco em cinco anos; a política das ruas, da organização dos movimentos sociais, das “manifestações”, da sociedade se organizando, da sociedade se articulando por redes sociais, a política da disputa de valores e de ideias na sociedade.
De algum modo, você faz política, embora você possa não ter qualquer “pretensão” eleitoral partidária o teu programa quando 'discute' valores, transmite ideias, isso também é uma forma de fazer política, porquê política, não é só na tribuna do Parlamento! Mas…infelizmente a política em Moçambique é feita de uma forma que acaba encorajando os corruptos…[_] a participarem desse processo.
Por isso, a política é importante de mais para agente 'deixar' nas mãos de um “punhado” de políticos viciados, carreiristas e que fazem política só… por interesse próprio, essa 'disputa' da política tem que acontecer, porque a “desmoralização” da política que foi feita conscientemente em Moçambique responde ao interesse de quem quer manter tudo como está isso, de facto, “desencoraja” que vozes arejadas, oxigenadas, novas e ousadas estejam na política.
Portanto, nós temos que fazer o movimento inverso, “ocupar a política” com outra perspectiva, com outra “visão” sobre a própria política para fazer uma reforma política em Moçambique para mudar a maneira como se relaciona o público com o privado, para mudar a maneira como são esses esquemas das distribuições dos loteamentos de Cargos e…por ai vai.
Manuel Bernardo Gondola
Maputo, [15] de Janeiro, 20[25]