Arlindo Chissale foi mais uma vítima do regime devido a um conjunto de "pecados mortais" que, na verdade, são virtudes raras em tempos de opressão: a sua sabedoria, inteligência, coragem, a defesa intransigente da verdade e do povo, e a denúncia incansável de crimes que muitos preferem silenciar. Estes atributos, que deveriam ser celebrados e admirados, foram tratados como ameaças pelo regime, que não tolera o brilho de quem ousa expor as suas sombras.
Não é novidade que este mesmo regime (frelixo) já fez tombar inúmeros heróis ao longo da sua história. Homens e mulheres que carregavam a chama da justiça e da liberdade, e que pagaram com a própria vida o preço de sonhar com um futuro diferente. Mas hoje, em nome da nossa sanidade colectiva, não vos contarei todas as suas histórias — seria um dilúvio de lágrimas. Em vez disso, faço de Arlindo o símbolo de todos esses mártires, um nome que representa os demais.
E agora, camaradas, a questão que nos assombra: quem será o próximo da lista? Quem será o próximo a cair sob o peso de um regime que se alimenta da silenciação, do medo e da injustiça? Não nos enganemos, o sacrifício de Arlindo e de tantos outros não será o último.
E mais ainda, sejamos directos: quantos mais faltarão para matar? Quantos mais serão eliminados para que a máquina do poder absoluto continue a girar sem resistência? E, mais importante, até quando continuaremos a assistir, impotentes, enquanto os pilares da nossa sociedade são destruídos pelas mãos daqueles que deveriam protegê-la?
A morte de Arlindo Chissale não deve ser apenas mais uma tragédia a adicionar à longa lista de vítimas. Deve ser um alerta. Um grito de despertar para um povo que merece muito mais do que aquilo que lhe tem sido dado. Que a sua memória seja não apenas um luto, mas também uma força mobilizadora. Afinal, o verdadeiro pecado mortal não é defender a verdade, mas ignorá-la quando grita diante de nós.
Galhardo Vaz Negro - Activista social, escritor, comunicólogo e poeta.