Não, entendem pesquisadores. Portugal ganhará influência e prestígio no campo das relações internacionais. E, como "não há almoços de graça", o ex-colonizador poderá querer também contrapartidas de natureza económica.
Não há como não notar que Portugal tem-se desdobrado em esforços para ajudar Moçambique a enfrentar a insurgência em Cabo Delgado, uma das regiões mais ricas em gás do mundo.
Em 2020, levou o problema da sua ex-colónia à mesa da União Europeia (UE), com os seus eurodeputados a fazerem os corredores em Bruxelas. Surtiu efeito. Mais sensibilizados, os 27 já se movimentam em direção a Maputo.
As estrelas estão alinhadas para Lisboa
Raúl Braga Pires, especialista nos PALOP com influência islâmica, sublinha que "há uma conjugação de fatores que permitirão a Portugal ser ainda mais ativo no que toca a questão de Cabo Delgado, isto porque Portugal assume a presidência da UE nos próximos seis meses".
O analista recorda que "há uma outra conjugação muito interessante": Portugal tem um Governo socialista e um ex-secretário socialista e ex-ministro como secretário-geral da ONU, António Guterres.
Neste âmbito, Raúl Pires entende que "há uma oportunidade de haver um olhar mais lusófono por parte das lideranças europeias, que permitirão um apontar de soluções e colocar Cabo Delgado na agenda".
E assim começaram as idas de governantes portugueses a Moçambique. Portugal passou a ser a ponta de lança da União Europeia no que se refere ao combate ao terrorismo em Cabo Delgado. O ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Silva, enviado do alto representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, reuniu-se esta semana em Maputo com as altas autoridades locais.
Contudo, há o entendimento de que esta não se trata de uma investida desinteressada de Lisboa.
"Moçambique terá de pagar alguma contrapartida"
O especialista em paz e segurança Calton Cadeado entende que "Portugal faz de tudo para servir de instrumento de influência nesses espaços multilaterais onde tem alguma voz para poder fazer passar a agenda de Moçambique - sempre na lógica de que não há almoços de graça nas relações internacionais, Moçambique terá de pagar alguma contrapartida".
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