Prefácio
Francisco Noa
Hoje, cada vez que se fala da marrabenta, uma das questões mais recorrentes e mais mediatizadas é a da sua origem: afinal, quem inventou a marrabenta? E, depois, vemos rios de tinta correndo, ou então, discussões acaloradas atribuindo a este ou aquele a paternidade deste ritmo tão emblemático do Sul de Moçambique.
Embora ela tenha a sua razão de ser, trata-se de uma questão que acaba por reduzir a importância histórica, social, cultural, simbólica da marrabenta, dado o carácter sensacionalista que envolve a discussão e as polarizações que vão sendo então feitas, destacando este ou aquele nome.
Daí que, depois de mostrar-nos a pluralidade de factores e o contexto em que a marrabenta surge: Podemos, deste modo, inferir que a Marrabenta não foi produto de uma individualidade, mas resultado de transformações sócio-culturais, políticas e históricas, impostas por forças exteriores aos moçambicanos, desde a década dos anos 30" (p. 28),
o autor de Marrabenta: sua Evolução e Estilização, 1950-2002 valida, assim, um dos mais significativos contributos trazidos pelo seu seu estudo para o conhecimento de uma das mais representativas manifestações culturais e artísticas de Moçambique.
Rui Laranjeira leva-nos, assim, a realizar uma viagem que explora não só as determinantes artísticas da marrabenta, mas também as suas condicionantes extra-artísticas e que, profundamente articuladas, concorreram para desenhar e dar densidade a uma época que, não hesito em considerá-la, talvez sob o impacto de algum ranço nostálgico, a Idade de Ouro da música moçambicana.
Como que traduzindo um espírito de uma época, falo dos anos 40, 50, 60 e a primeira metade dos anos 70, a génese e evolução da marrabenta acabam por estar associadas a outras artes como a literatura, a pintura ou a escultura, naquilo que constituiu a emergência de uma consciência cultural, nacionalista e identitária, em Moçambique.
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