Por Alexandre Chiure
Esta semana tive uma conversa interessante com um amigo que trabalha, faz muito tempo, no sector de turismo. Um quadro com uma experiência acumulada na promoção turística e com uma visão ampla sobre Moçambique como um destino turístico.
O bate-papo girou à volta do artigo que publiquei, na quinta-feira passada, neste espaço, em que me referia ao turismo selvagem praticado por alguns sul-africanos no país. Disse-me que concordava comigo em alguns aspectos e com os visitantes, noutros.
Deu-me razão quando defendo que o país está a perder muito dinheiro por falta de um mecanismo eficiente e consolidado de controlo das receitas arrecadadas por operadores turísticos em reservas e pagamento de alojamento via on line para estâncias turísticas moçambicanas junto dos seus escritórios no estrangeiro.
Tal situação coloca-se em relação a sul-africanos com empreendimentos turísticos na Ponta de Ouro, Inhassoro, Vilanculos, em particular no Arquipélago de Bazaruto, nas praias da Barra e Tofo, em Inhambane, e noutros destinos.
Ficou claro, entre nós, que o problema não tem nada a ver com a forma como as reservas são efectuadas por turistas estrangeiros que queiram visitar o país, mas com a capacidade do governo de ir no encalço das receitas geradas com base nesse negócio.
Os operadores turísticos estão a fazer o trabalho, explorando as facilidades que as tecnologias de informação e comunicação oferecem, vendendo os seus serviços ao mundo através de algumas plataformas ao seu dispor.
O resto não é com eles, mas com as autoridades moçambicanas que têm a responsabilidade de estabelecer mecanismos que permitam tirar benefícios desse tipo de reservas para o bem da economia moçambicana.
A nossa conserva já ia longa quando o meu amigo me disse que não se sentia incomodado com o facto de os turistas sul-africanos trazerem consigo tudo que vão precisar durante a sua estadia em Moçambique, apesar de isso significar uma perda de receitas para o país.
No seu entender, a culpa não é dos turistas em si, mas, isso sim, do próprio país, cujo mercado não está em condições de poder oferecer o que eles procuram. Não encontram, por exemplo, carne seca e outro tipo de produtos nos destinos turísticos que frequentam, designadamente Ponta de Ouro, Bilene, Inhambane e outros, o que, para mim, é mais grave do que parecia.
Explicou-me, e dei-lhe razão, que mesmo ele próprio, quando se desloca à Ponta de Outro ou a um outro destino turístico, é obrigado, vezes sem conta, a fazer um rancho como garantia de que tem tudo de que precisa no carro e em quantidade suficiente para cobrir as suas necessidades alimentares durante o tempo de visita.
O meu amigo, de quem aprendo muito sobre o turismo, disse-me que um dos grandes problemas que o país tem é a falta de segmentação de turismo. Saber-se, por exemplo, onde é que se deve estar para a prática de um determinado tipo de turismo e com base nisso as autoridades locais criarem condições para satisfazer o tipo de turistas que frequenta cada uma das zonas.
É assim como as coisas são feitas noutras partes do mundo. Reconhece que nesse aspecto, como país, não estamos bem. Diz que os sabores estão misturados, o que não é aconselhável para o próprio sector de turismo e mesmo para os turistas, em particular estrangeiros.
No caso concreto dos sul-africanos que vêm para Moçambique com tudo na bagagem, o que procuram não são hotéis ou estâncias turísticas, mas o campismo e nós não estamos suficientemente organizados para atendê-los e fazer-lhes gastar o seu dinheiro dentro do país. Eles, no fim do dia, deixam muito pouco ou quase nada em termos de receitas porque não têm necessidade de comprar quase nada a nível interno.
O meu amigo disse mais: que um dos desafios é a necessidade de transformação de Moçambique, hoje um destino, em produto turístico. Perguntei-lhe a quem cabe a responsabilidade de levar a cabo tal desiderato, ao que respondeu que isso compete aos operadores turísticos que me parecem, no geral, pouco criativos.
O país acolheu, no ano passado, grandes eventos internacionais, como é o caso do “Africano” de futebol de praia, em Vilanculos, e de boxe, em Maputo, com o envolvimento de vários países do continente, para além da Conferência de Mineração, Petróleo, Gás e Energia, em Abril de 2021, que atraiu executivos destes sectores para a capital do país.
Tudo leva a concluir que os operadores turísticos moçambicanos se comportaram como meros espectadores. Não souberam transformar os referidos eventos em oportunidades de negócio.
Deviam, por exemplo, ter desenhado, com antecedência, pacotes turísticos destinados a ocupar os tempos livres dos visitantes e obter ganhos financeiros. Ao que me parece, nada foi feito nesse sentido.
Isto quer dizer que há muita coisa que ainda nos falta, como país, para ganharmos dinheiro com o turismo e sermos competitivos na região Austral de África, nomeadamente a atitude, criatividade, agressividade e o profissionalismo.
Algumas delas deverão ser resultado de um trabalho em conjunto entre o governo, concretamente o Ministério da Cultura e Turismo, e operadores turísticos. Outras dependem única e exclusivamente dos próprios gestores turísticos.
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