Por Francisco Nota Moisés
Cabo Delgado: A Insurgência Esquecida da África(voz)
Ouça aqui(inglês)
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O principio desta conversa que inclui Dyck, o tal chefe dos mercenários rodesio-sul africanos, saturou me com a sua cantiga de alegações tomadas da Frelimo contra os rebeldes. Até disseram que os rebeldes, uns 100 deles, quando atacaram Palma no dia 24 de Março, estiveram vestidos de roupa negra para insinuar que os rebeldes islamitas. Esta conversa repetiu a velha canção de que os rebeldes decapitam membros da população. Os rebeldes do Norte não vão nisto. E é também ingénuo atribuir a responsabilidade somente aos rebeldes pela confusão e fuga dos populares quando os rebeldes, que parecem ser os que só estão na ofensiva enquanto a soldadesca da Frelimo está permanentemente na defensiva e encurralada nas suas trincheiras.
Mas quando balas começam a voar, pessoas fogem e correm por todas as partes, umas terminando no lado da Frelimo e outras nas zonas libertadas dos rebeldes. Impressiona-me saber que os rebeldes se referem as suas zonas como zonas libertadas, mas, infelizmente, pelos vistos, eles não emitem declarações. Declarações que aparecem de vez em quando, como a ameaça de dinamitar as residências e escritórios dos representantes diplomáticos em Maputo são inventadas pela Frelimo como forma de incitar e forçar os países estrangeiros, particularmente os países ocidentais, para agirem militarmente.
Mas os militares dos países ocidentais, treinados para guerras convencionais, provam ser tigres de papel ou chui wa karatasi (leopardos de papel) na tradução nyererista em Swahili, quando se envolvem em guerras de guerrilha. Nyerere estava tão encantado pelo camarada Mao Tsé-Tung a ponto de pensar que podia inculcar pensamentos asiáticos no seu povo. Africa não tem tigres, embora vi dois numa secção do Parque de Nairobi no Quénia nos anos de 1980, mas esses tinham sido trazidos da Ásia, possivelmente da India, com a qual então o Quénia entretia melhores relações do que com a China comunista. Enquanto a propaganda escrita maoista era proibida no Quénia e um refugiado moçambicano de nome Nkamate foi encaraboiçado por um mês por ser encontrado na posse da propaganda maoista, na Tanzânia de Julius Nyerere e em Uganda de Milton Obote a literatura maoista era vendida ou distribuída de graça.
Todavia, a conversa torna-se mais e mais curiosa quando os participantes se debruçam sobre as causas da guerra em Cabo Delgado. Nenhum deles falou do Estado Islâmico e disseram mesmo que os Al Shababes da Somália não estão implicados no conflito e reiteraram que não havia evidencia de forasteiros no conflito. Atribuíram as causas do conflito a falha do regime da Frelimo e à ganancia incontrolável dos seus dirigentes, adiantando que a Frelimo puxou os populares de Cabo Delgado aos extremos, arrancando lhes as suas terras para servir companhias estrangeiras e os grandes da Frelimo e os seus generais; expulsando e maltratando os garimpeiros. Falam da corrupção total dos dirigentes frelimistas, realçando que nada filtra para os populares.
Enfatizaram que os recursos de Cabo Delgado só servem e são controlados pela elite da Frelimo, elite esta que impediu os locais que cortavam a madeira para vende-la diretamente aos chineses para ela obter o dinheiro dos chineses.
Disse-se que havia forasteiros que vinham doutras partes da Africa para tentarem fazer fortuna nas minas dos rubis e doutras pedras preciosas na região de Montepuez. Sabe-se, porem, que a polícia da Frelimo maltratou muitos tanzanianos, tendo morto alguns, arrancado o seu dinheiro e violado as suas esposas. E isto aconteceu antes da guerra da resistência dos rebeldes em 2017, o que forçou o governo da Tanzânia a estabelecer programas de ajuda aos seus desterrados de Moçambique, segundo vídeos no YouTube.
Daí que os tanzanianos parecem agora não estar interessados a socorrer a Frelimo na sua angustia causada pelas derrotas que os rebeldes lhe inflige.
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