Katia Guerreiro lança na próxima semana um novo álbum,"Fado", em que aposta mais na interpretação, abre o leque de criadores e assume pela primeira vez a produção.
"Atirei-me sobretudo para a interpretação que nos outros discos se nota que estava mais contida, mais cuidadosa. Arrisquei muito na interpretação, mas todos os fados tradicionais e a poesia que escolhi me ajudaram a encontrar esse nível de desprendimento com o rigor técnico".
O álbum, editado pela Sony Music, abre com quadras de Florbela Espanca a que se juntou um refrão de Carlos Ramos, interpretado no Fado das Horas de Maria Teresa de Noronha.
"Há muito tempo que queria cantar o Fado das Horas, que, dos tradicionais, é o mais alegre e foi uma ideia brilhante do João Mário Veiga [viola]", explicou a fadista.
O tema intitula-se "Fado dos olhos" e é o primeiro de um conjunto de 14 temas, um deles de sua autoria, "A voz da poesia", com música de Rui Veloso.
Não é a primeira vez que Katia se assume como autora. Já no seu segundo álbum, "Nas mãos do fado", assinou "Meu principezinho".
Katia Guerreiro contou à Lusa a história deste tema: "Foi composto há pouco mais de um ano, numa tarde chuvosa e cinzenta em Cherburgo [França], e depois saiu ao correr da pena".
Escolheu Rui Veloso por o poema se inspirar "de certa forma numa outra canção" do compositor e intérprete, amigo da fadista, "lá de casa", e que no início da carreira lhe disse: "Katia isto é muito a sério e eu quero ver-te uma dia ser grande".
Dos poetas escolhidos, além de nomes habituais como Paulo Valentim, seu guitarrista, João Mário Veiga, e Rodrigo Serrão, seu contrabaixista, surge a descoberta de Fernando Tavares Rodrigues. Uma homenagem que faz a um poeta já falecido "e injustamente desconhecido".
Sendo a primeira vez que a sua poesia é interpretada em fado, Katia Guerreiro prometeu "voltar à obra do Fernando em próximos álbuns".
De sua autoria Katia interpreta "Ponham flores na mesa" e "Mundo", respectivamente, no Fado Tango de Joaquim Campos e no Fado Esmeraldinha, de Júlio Proença, dois outros fados tradicionais que a artista "há muito queria cantar".
Relativamente aos fados tradicionais, Katia Guerreiro sublinhou à Lusa que escolhe aqueles com que se identifica, uma questão importante porque a fadista se diz "mais à vontade" quando canta melodias compostas para a sua voz por compositores que já a conhecem.
Da habitual "equipa criadora", neste álbum consta também Maria Luísa Baptista que acompanha a fadista desde o primeiro álbum, "Fado maior", e que desta vez assina "Casa da colina" com música de Rodrigo Serrão.
As histórias deste álbum são muitas, feitas de "encontros", "coincidências", mas também de "reflexão".
"Muitos temas agora incluídos esperaram o seu tempo de maturação, que chegasse o ponto em que como intérprete achei que era a altura", afirmou.
"Lírio roxo", de António Gedeão, que interpreta no Fado Vianinha de Francisco Viana, foi um deles.
Dos 14 temas, entre os quais "Lisboa", de Charles Aznavour, Katia escolheu três preferidos: "Ponham flores na mesa", "Pranto de amor ausente" (Paulo Valentim) e "Eu queria cantar-te um fado" (António de Sousa Freitas/Franklin Godinho).
Este Fado Franklin de sextilhas "foi o ponto de partida para este disco e é o bocadinho de Amália na minha inspiração", assinalou ainda.
NL/Lusa
Recent Comments