Lisboa, 12 Jan2004 (Lusa) - Dois duplos CD com gravações antigas de Argentina Santos e Tristão da Silva inauguram a colecção "Antologia" que começa esta semana a ser colocada no mercado nacional.
Tristão da Silva foi "um caso de assinalável sucesso e que não pode ficar esquecido", disse à Agência Lusa Ema Pedrosa, da Movieplay Portuguesa, que chancela esta colecção feita dos arquivos de várias editoras já desaparecidas cujo espólio adquiriu.
Luís de Castro, da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF) salientou à Lusa ter "Tristão da Silva chegado mais depressa ao grande público como cançonetista, apesar de ter sido um dos maiores intérpretes do fado tradicional".
Nestes dois CD estão reunidos êxitos como "Aquela janela virada pró mar" (Frederico de Brito), "Sonho tropical" (António Vilar da Costa/Casimiro Ramos), "História de uma chinela" (Eduardo Damas/Manuel Paião), "Nem às paredes confesso" (Max/Artur Ribeiro/Ferrer Trindade), "Ai se os meus olhos falassem" (Jerónimo Bragança/Nóbrega e Sousa), "Maria morena" (Francisco Radamanto/C.
Ramos) ou "Em cinco minutos" (Frederico de Brito).
"Temas de grande popularidade que se ouviam na rádio onde Tristão era incessantemente pedido pelos ouvintes", disse Ema Pedrosa.
A maioria das gravações agora digitalizadas são da década de 1960, "altura em que o nome de Tristão enchia casas de espectáculo".
Na opinião de Luís de Castro, "Tristão da Silva foi uma das vozes mais com mais musicalidade e de cambiantes únicos, fruto dos seus excepcionais tempos de respiração".
Tristão da Silva, conhecido inicialmente como "o miúdo do Alto Pina" começou a cantar aos nove anos no Café Mondego, em Lisboa.
Sucessivas vezes reprovado na admissão para cantor na Emissora Nacional, tornou-se num caso de sucesso também além fronteiras.
"'Nem às paredes confesso' e 'Maria Morena' catapultaram-no para o estrelato nacional", disse Ema Pedrosa, que referiu "o imparável calendário de espectáculos" do artista que na década de 1950 actuava diariamente em duas casas de espectáculo lisboetas.
"Percorreu o país numa grande digressão, seguindo para África onde actuou nas ex-colónias, aceitando depois uma contrato para o Brasil onde permaneceu durante quatro anos", disse a mesma fonte.
Realizou várias digressões por países latino-americanos "sempre com repertório português e só excepcionalmente interpretava uma canção brasileira ou espanhola".
Quando em 1964 regressou a Portugal para integrar o elenco da revista "Férias em Lisboa", "o público recebeu-o com uma ovação de 10 minutos", recordou Ema Pedrosa.
Além dos 30 temas agora remasterizados "a Movieplay tem ainda 60 outros que oportunamente serão editados", acrescentou.
Ema Pedroso salienta "ser este um forte investimento da editora, tanto mais que a rádio não passa nem dá a conhecer a música portuguesa, e a televisão não revisita os grandes artistas nem os mostra às novas gerações que ficam sem conhecer a história da música ligeira portuguesa".
Tristão da Silva faleceu a 10 de Janeiro de 1978, vítima de um acidente de viação em Lisboa.
"Para a história da música - enfatizou Ema Pedrosa - fica uma belíssima voz que sabia interpretar sem desafinar nunca".
Argentina Santos é outro nome que inaugura esta colecção, com 36 temas interpretados em diferentes épocas "mostrando-nos sempre a sua capacidade de estilar e interpretar de forma única", disse Luís de Castro.
Nestes dois CD, encontramos três temas gravados entre 1962 e 1965, nomeadamente "Passeio fadista" (Alberto Rodrigues/António Sabrosa), gravado ao vivo na sua casa típica Parreirinha de Alfama, "onde esteve quase escondida e onde nunca se apresentou como vedeta", afirmou Ema Pedrosa.
Foram também incluídos nesta selecção os fados gravados no seu primeiro LP, em 1978, designadamente "Chafariz do Rei" (Fernando Teles/Fado Corrido) e ainda registos gravados em 1989 e 1995 "quando finalmente começou a interessarÀse pela sua carreira".
Nestes CD surgem, entre outros, os temas "Vida vivida" (João de Freitas/Fado Menor), "A rir e a brincar" (Fernando Farinha/Miguel Ramos), "Coração não batas tanto" (A.Rodrigues/J.A. Sabrosa), "Duas santas" (Augusto Martins/J.A. Sabrosa), "Lágrima" (Amália Rodrigues/Carlos Gonçalves) e "As minhas horas" (Maria Manuel Cid/Joaquim Campos).
Ema Pedrosa adiantou à Lusa que estão previstas edições discográficas de outros "nomes grandes da música portuguesa, tanto na área da canção como do fado, em discos próprios ou em colectâneas".
Fernando Maurício e Maria José da Guia são dois nomes que surgirão em futuras edições.
NL.
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