Paris, 19 Jan2004(Lusa) - A fadista Mísia acusou hoje em Paris os intelectuais e os agentes culturais em Portugal de darem pouca atenção ao fado, à margem da cerimónia em que foi condecorada com a Ordem das Artes e das Letras de França.
O evento decorreu na embaixada de Portugal em Paris e Mísia foi condecorada - com o grau de Cavaleiro - pelo ministro francês da Cultura, Jean-Jacques Aillagon, em reconhecimento pela sua popularidade em França.
No decorrer do acto, Mísia lamentou o facto de o fado estar a receber pouca atenção dos agentes culturais em Portugal ao contrário do que acontece fora de portas, designadamente em França.
"Todos os reconhecimentos são bons", disse a fadista quando questionada se gostaria de ser mais reconhecida em Portugal. "Os portugueses que gostam do meu trabalho estão dentro de mim", completou.
A fadista criticou igualmente os meios de comunicação social e os críticos musicais portugueses, questionando expressões utilizadas recentemente para definir as fadistas, como as "novas divas" ou "novas vozes".
A cantora desafiou os críticos musicais a fazerem análises mais rigorosas e profundas sobre o fado em Portugal.
Considerando que a existência do fado depende e dependerá dos escritores portugueses contemporâneos, Mísia manifestou-se muito feliz por ter trabalhado letras escritas por autores como José Saramago, Vasco Graça Moura ou Pedro Tamen.
Em relação à França, a fadista disse que trabalhou com vários artistas franceses, como Patrice Leconte e Isabelle Hupert, o que lhe proporcionou uma maior visibilidade no país.
Na sua intervenção, o ministro da Cultura de França falou do amor dos franceses pela artista - que usou para justificar a distinção que Mísia recebeu hoje a par da gratidão que a República Francesa tem para com a fadista.
Aillagon declarou que Mísia é "uma grande embaixatriz da música portuguesa" e que o fado - "uma música que atravessou fronteiras" - "faz parte do património e da alma portuguesa".
"O fado é um ritual para o exorcismo da dor", sublinhou o ministro, que elegeu ainda a língua portuguesa como uma das mais belas, ricas e musicais da Europa.
Já o embaixador português em França, António Monteiro, declarou que "Mísia é um símbolo" e que "o fado é um valor cultural sólido que ajuda na divulgação da música e da própria poesia portuguesa".
Presentes na cerimónia estiveram também o antigo presidente da República Mário Soares e o ex-ministro da Cultura Manuel Maria Carrilho, que classificou Mísia como a "percussora da renovação do fado".
Após o acto, Mísia interpretou seis fados, incluindo um fado em francês, a partir de um poema escrito por Vasco Graça Moura.
A cantora, que não costuma cantar fados em francês, disse que abriu uma excepção especial para esta cerimónia, sendo esta a segunda vez que o fez.
BM/CSR.
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