Lisboa, 15 Dez 2003(Lusa) - "Nas mãos do fado" é o título do segundo CD de Katia Guerreiro, que hoje chega às discotecas e que revela "maturidade e um misto de continuidade e ruptura", como afirma o musicólogo Rui Vieira Nery.
Vieira Nery salienta também "a cuidadosa e exigente escolha dos suportes poéticos" assinados por Florbela Espanca, António Lobo Antunes, Paulo Valentim, Dulce Pontes, João Veiga, Ana Vidal, Maria Luísa Baptista e pela própria Katia Guerreiro ("Meu principezinho").
Paulo Valentim, que acompanha à guitarra portuguesa e assina algumas letras e músicas deste CD, disse à Lusa que "há uma clara demonstração neste disco como o fado é o veículo por excelência dos sentimentos".
Para o músico, Katia Guerreiro surge "com maior certeza, quer pela experiência dos palcos pisados e dos muitos fados já experimentados junto do público e agora gravados, quer pelo aperfeiçoamento técnico" que lhe dá "outra desenvoltura na voz e nos sentimentos que expressa".
Rui Vieira Nery considera por seu turno que a fadista "largou amarras" e procura "com maior segurança" um "repertório próprio com toda a margem assumida".
Entre os 15 fados gravados contam-se "Os meus versos" (Florbela Espanca/P. Valentim), "Segredos" (P. Valentim), "Voz do vento" (M. Luísa Baptista/João Maria dos Anjos para sextilhas) e "Romper madrugadas" (P.Valentim/J. Mário Veiga).
A fadista retoma ainda três fados do repertório de Amália Rodrigues, cuja matriz "surge agora mais remota" que no primeiro álbum, segundo Vieira Nery.
Os fados escolhidos são "Perdigão" (Luís de Camões/Alain Oulman), "Rosa vermelha" (José Carlos Ary dos Santos/A. Oulman) e "Chora, mariquinhas chora" (Amália Rodrigues/José Fontes Rocha).
O musicólogo chama a atenção para a "interpretação castiça e mais tradicional" dos fados menor e Margaridas, respectivamente "Valsa" (A. L. Antunes/Miguel Ramos) e "Voz do vento" (M.L.
Baptista/fado menor).
Paulo Valentim salientou "a confiança notável de Katia Guerreiro que tem já o aval do meio fadista, daqueles que ouvem e gostam realmente de fado". Vieira Nery faz notar "a voz de timbre privilegiado e a força expressiva".
O músico José Niza considera que Katia abre ao fado "outras rotas e outros caminhos, inova, sem tentar rupturas a despropósito ou modernices exibicionistas".
A fadista tem previsto voltar ao Reino Unido e a França, apresentar-se na Suécia, Dinamarca, Itália e Eslovénia e em Fevereiro subir ao palco do Teatro São Luiz, em Lisboa. Outro palco em perspectiva é o Lincon Center, em Nova Iorque.
Katia Guerreiro tem realizado várias digressões a territórios tão distantes como a Nova Caledónia - onde foi, em Junho passado, a primeira portuguesa a actuar -, ou no Japão, onde em Abril inaugurou o Museu Luís Fróis.
A fadista afirmou à Lusa que "a cultura portuguesa, através do fado, revela-se lá fora" considerando "surpreendente e extraordinária a adesão dos estrangeiros ao fado tradicional".
Neste CD, Katia Guerreiro é acompanhada à guitarra portuguesa por Paulo Valentim, à viola por João Mário veiga e no contrabaixo por Rodrigo Ferrão.
Tal como já afirmara no CD de estreia da fadista, Rui Vieira Nery considera que a artista tem "um prometedor futuro, animados pelo percurso já percorrido".
Katia Guerreiro que este ano representou Portugal no Festival Strickly Mundial nasceu na África do Sul, mas aos 11 meses veio viver para os Açores.
Licenciou-se em Medicina, pela Universidade Nova de Lisboa, mas ainda antes de vir para Lisboa já se destacara a cantar e a tocar "viola da terra" no Rancho Folclórico de Santa Cecília. Em Lisboa integrou a Tuna Médica.
"O fado surgiu por acaso, quando estava numa casa típica e fui convidada para cantar", contou Katia Guerreiro.
Editou o seu primeiro CD, "Fado Maior", em 2001, pela Ocarina, que também chancela "Nas mãos do fado". As vendas de "Fado Maior" atingiram o galardão de prata (vendas superiores a 15.000 exemplares) e a nomeação para o Prémio José Afonso.
NL.
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