Paris, 09 Nov2003(Lusa) - O interesse crescente dos franceses pelo fado levou a editora Chandeigne a lançar recentemente uma obra que vem colmatar a reduzida bibliografia sobre este tema em França.
"Existe um interesse real pelo fado", constata Ana Lima, responsável pela edição do livro e proprietária, em sociedade com Michel Chandeigne, de uma livraria em Paris vocacionada para a cultura e literatura portuguesa.
A provar esta vontade de conhecer é a presença cada vez mais frequente de franceses em restaurantes portugueses na região de Paris onde se canta o fado, confirmam dois fadistas na diáspora.
"São curiosos e muitas vezes vêm perguntar a origem do fado e qual a intenção do poema", acrescenta um deles, Tony do Porto.
A ideia do livro partiu da autora, Agnès Pellerin, após a conclusão da licenciatura em Filosofia, cuja tese versou sobre o fado, seguindo a proposta de um professor.
O trabalho para a universidade levou-a até Portugal e a estudar com maior profundidade o fado, o seu significado e as suas tradições.
Intitulado simplesmente "Le Fado", o livro conta as histórias e as polémicas sobre as origens do fado até ao século XX, a sua evolução e o impacto na sociedade portuguesa.
É igualmente referido o papel da guitarra portuguesa e comentados os temas normalmente preferidos para os fados, mostrando as letras em português e a sua tradução em francês.
"É uma síntese, um livro de iniciação", resume Ana Lima.
Além de alguns fadistas, Agnès Pellerin falou com investigadores deste tema, como Joaquim Pais de Brito, mas também com portugueses que vivem em Portugal e em França.
"Ainda existe uma noção nacionalista de que o fado é só português", facto que faz desta música "um cliché, um ícone de Portugal", declara a autora à agência Lusa.
Mesmo pouco conhecido pelos musicólogos franceses com quem contactou, Agnès Pellerin afirma que "em França cultiva-se a ideia de que fado é literário e sofisticado", ideia que o livro também tenta desfazer.
A acompanhar a obra vem um CD com 15 canções de fadistas "pouco conhecidos", gravados em restaurantes em Lisboa e na escola de fado de Chelas, com jovens dos 10 aos 21 anos.
Apostando na diversidade e evitando reproduzir canções e fadistas célebres, a intenção foi "mostrar que o fado não é só o que se ouve nos espectáculos", explica a editora.
Em França, depois de Amália, a imagem do fado é dada pelas mais novas estrelas, como Cristina Branco, Mísia, Katia Guerreiro, Camané ou Mariza, que começam a ser presença regular nas grandes salas de espectáculo de Paris e no resto do país.
Para Agnès Pellerin é importante mostrar que o fado pode ser cantado "sem encenação", salientando a diferença entre Mísia e os fadistas espontâneos dos bairros típicos lisboetas.
Dos palcos e casas de fado para as livrarias, o livro vai ser alvo de uma promoção especial antes do Natal em três livrarias parisienses com a presença e actuação de fadistas.
Nesses dias, o silêncio será pedido para se ouvir o fado e ler o livro.
BM
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