Lisboa, 22 Out 2004 (Lusa) - A Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF) inicia domingo um ciclo dedicado aos poetas do fado em co- produção com o Museu do Fado, em Lisboa, foi hoje anunciado.
"Sentir a alma dos poetas.Conversas e fado" é o título do ciclo que "procura dar a conhecer a vida e obra de homens que em muito contribuíram para grandes sucessos da música portuguesa", disse à agência Lusa a coordenadora do evento, Julieta Estrela.
O ciclo organizado pela APAF - que celebra o seu décimo aniversário - tem apoio documental de Francisco Mendes.
"Em cada domingo, de 15 em 15 dias e até 05 de Dezembro, sempre às 17:30 no Museu do Fado será evocado um poeta através dos seus versos, da sua intervenção cívica e daqueles que o cantaram", explicou Julieta Estrela.
Esta responsável salientou à Lusa "a qualidade literária de alguns poetas de fado que é forçoso reconhecer".
Exemplo disso mesmo é o poeta que abre o ciclo, António Vilar da Costa que numa entrevista ao jornal Voz de Portugal, em 1955, afirmou: "embora haja a opinião que os versos de fado sejam coisa prosaica e sem lirismo, há letras que muitos vates [eruditos] não desdenhariam assinar".
A actriz Alina Vaz - que apresentará o poeta no domingo - partilha da mesma opinião.
Em declarações à Lusa a actriz sublinhou "a grande qualidade de muitos poemas de fado, de que Vilar da Costa é um exemplo" e recordou as palavras de Fernando Pessoa, segundo o qual "fado é poesia ajudada".
Alina Vaz irá falar sobre a vida e obra de Vilar da Costa, nascido em Lisboa em 1921 e que assinou centenas de produções - segundo dados da Sociedade Portuguesa de Autores - cantadas por Amália Rodrigues, Manuel Fernandes, Tristão da Silva, Vicente da Câmara ou Joaquim Cordeiro, para além de inúmeros artistas da música ligeira.
O poeta, falecido em Lisboa em 1988, deixou dois livros, "Sonetos" e "à Janela da vida".
Vilar da Costa "foi um poeta extraordinariamente versátil, tendo capacidade para compor sonetos, letras de grande lirismo ou aguarelas impressionistas sobre Lisboa e os seus tipos populares, mas também, para o fado humorístico, uma vertente que infelizmente hoje se vai perdendo", disse Julieta Estrela.
Domingo, além da apresentação de Alina Vaz, o fadista Bruno Igrejas, que recentemente editou o seu primeiro CD, "Meu bairro", interpretará letras do poeta acompanhado por Paulo Silva (guitarra portuguesa) e Augusto Soares (viola).
No dia 07 de Novembro, o poeta Francisco Radamanto será apresentado pela documentalista Ana Maria Coelho Mendes.
"Radamanto foi um poeta marcante das décadas de 1940 e 1950, entre os seus sucessos refira-se `Maria Morena'", disse à Lusa Ana Maria Mendes.
Para além de uma centena de letras que produziu, o poeta compôs uma opereta e teve sucessos cantados por Anita Guerreiro, Tristão da Silva e Fernando Maurício.
Dia 21 de Novembro a realizadora de rádio Arlete Pereira apresentará Armando Neves.
O jornalista é "autor, entre outros, do celebrado `Fado da Freira', para além de ter composto vários êxitos para Alfredo Marceneiro", disse Arlete Pereira.
Julieta Estrela encerra o ciclo dia 05 de Dezembro com o poeta João da Mata, que foi também guitarrista.
João da Mata foi cantado por vários fadistas, nomeadamente, Berta Cardoso, Carlos Ramos, Lucília do Carmo, Quinita Gomes e Madalena de Melo, com quem casou.
"Este ciclo traz à luz do dia e à memória de muitos nomes grandes da poesia popular portuguesa, que continuam a ser cantados", referiu.
A organizadora salientou ainda que, com alguma frequência, os nomes dos autores das letras surgem trocados em CD agora editados ou são simplesmente omitidos.
NL.
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ola, procuro a letra do Fado da Freira ou algum cd que contenha esse fado, será que me pode ajudar?
Obrigado
Um abraço
Isa
Posted by: isa | 03-04-2007 at 19:56
Estas são letras de fado que componho. Ponho à tua observação e que me respondas, por favor.
FARDO
São tantas vinhas e fados
São tantas minhas saudades
São tantos mares serenos,
São tantos ais, são venenos.
São tantas marcas no corpo
Tantas lembranças de um porto.
Tantos destinos havia
O céu tantas terras cobria
São mais os ventos que guiam
Que o meu coração que cativas.
Te vendo eu me alucino
E talvez seja,
O destino que eu ganhei
Esta parada.
A distâcia que eu ainda não gostei
Ou a vontade de beijar-te.
BLASFÊMIA
Se alguém quizer me ver chorar,
Fale o seu nome uma vez
E me recorde aquele tempo amargo
O grande mal ela me fez.
Não acredito mais no amor
Assim, jurado e não cumprido,
Minha resposta e sempe a verdadeira
Prefiro ir só no meu caminho.
O amor não se blasfema,
Qualquer palavra é pena
Que um vai ter de suportar.
O amor requer mil jeitos
De se chegar e dar
E um vai ter de começar.
TORMENTAS
Meu coraação não espera
O que vem da terra
O que vem do mar.
Meu coração não quer
Velejar tormentas
Terras desbravar.
Meu coração só espera
Que melhore o tempo
Que se acalme o mar.
Prá que ele sinta perto
E esteja assim, mais certo
De que um dia ainda encontrará
Meu Portugal.
REVERÊNCIA
Ao ventos obedenço, reverente
E dou minh'alma leve
Pra que levem.
Aos céus às naus distantes
À mercê dos anjos.
Pra assim
Me condenarem no que devem.
Às chuvas meu olhar entregarei
E aceitarei
O tempo bom de fecunda.
Meu ventre ardendo
O bem que há na terrra
E o sangue dos filhos
Que vou deixar.
VIDA
Olhando o Tejo,
Eu vejo mais meu Portugal
E não me ocorre,
Nesse momento nenhum mal.
O bem maior,
São as lembranças
Que com ele passam.
E delas lembro
Com um sabor
Da uva passa.
O que é ser rio e não correr
O que é ser água e não poder
Matar a sede de quem passa
Tão fatigado.
PASSARINHO
Estou fazendo a minha parte,
Passarinho,
Estou vertendo água dos olhos.
Gota a gota, derramando
Passarinho,
Sem nem ter quem me console.
Estou fazendo dessa dor
Uma promessa
Que sem ver já estou pagando
E sem ter razão, que vida,
Passarinho,
Eu canto ainda,
O teu nome vou chamando.
Passarinho,
Um rio indo na corrente
É um destino
Que só se acaba com a morte.
Contravir é sacrifício
Que só peixe faz perdido,
Confundindo o sul e o norte.
Um beijo
Naeno
Posted by: Naeno Rocha | 18-03-2007 at 17:36