Lisboa, 05 Out (Lusa) - Amália Rodrigues morreu faz quarta- feira cinco anos e entre as iniciativas que assinalam a data conta-se um debate na Casa do Fado e da Guitarra Portuguesa, em Lisboa, com a participação da irmã de Amália, a também fadista Celeste Rodrigues.
Além de Celeste Rodrigues, que pela primeira vez falará em público sobre a irmã, participam no debate, entre outros, Jorge Fernando, músico que acompanhou Amália durante vários anos, Hugo Ribeiro, técnico de som com quem sempre gravou, a fadista Joana Amendoeira e o David Ferreira, presidente da EMI/Valentim de Carvalho.
O debate, às 19:00 na Casa do Fado e da Guitarra Portuguesa, onde desde 10 de Junho está patente uma exposição sobre Amália, será moderado por Armando Carvalheda.
O Panteão Nacional, onde se encontra o corpo da fadista, "irá estar aberto para que as pessoas possam prestar as suas homenagens", disse à agência Lusa a sua directora, Iria Esteves Caetano.
Aquela responsável adiantou ainda que a entrada será gratuita.
O Panteão Nacional é local de romagem desde que o corpo da fadista - a primeira mulher a ser ali sepultada - foi traslado em Julho de 2001.
A Fundação Amália Rodrigues, "face a tantas comemorações", vai ceder a Casa-Museu da fadista para algumas transmissões televisivas e a celebrar às 19:00 uma missa na Basílica da Estrela, em Lisboa, disse à Lusa Amadeu de Aguiar Costa, do Conselho de Administração da Fundação.
Outras iniciativas assinalam a data, nomeadamente a edição de dois CD.
Os CD são duas compilações de temas cantados pela artista, intituladas "Amália Portugal" e "Amália Universal", adiantou à Lusa David Ferreira, da EMI-VC.
"A primeira compilação inclui gravações de folclore com orquestra e também à guitarra e à viola; a segunda mostra-nos Amália cantando grandes sucessos em espanhol, francês, inglês e italiano e três trechos em português com orquestra", disse a mesma fonte.
Os dois CD referem-se a gravações entre os anos 1964 e 1971 e, segundo David Ferreira, "revelam uma Amália menos conhecida do grande público mas nem por isso menos sublime".
"Várias gravações que nunca tinham sido publicadas em Portugal em CD, surgem nestas compilações", frisou David Ferreira.
A edição discográfica é acompanhada por textos de Vítor Pavão dos Santos que se tornou num especialista na obra da fadista.
Amália Rodrigues nasceu em Lisboa, em 1920, e tornou-se na década de 1940 a maior vedeta da música portuguesa.
Estreia-se no Retiro da Severa, em Lisboa, em 1939, apesar de já cantar em vários locais de fado com o nome de Amália Rebordão, numa clara referência ao seu irmão Filipe Rebordão, pugilista relativamente conhecido.
Logo no ano seguinte estreia-se no teatro na revista em "Ora vai tu".
A sua primeira deslocação ao estrangeiro surge em 1943: a convite do embaixador Pedro Teotónio Pereira actua em Madrid, acompanhada por Armandinho (guitarra portuguesa) e Santos Moreira (viola).
Em 1944 Amália estreia-se no Brasil, onde um contrato de três semanas se prolonga por três meses e a fadista grava os primeiros discos.
Amália inicia então uma fulgurante carreira que levou a pisar os mais importantes palcos do mundo - do Olympia de Paris ao Hollywood Bowl, em Los Angeles (Califórnia), passando pelo Teatro Lírico de Milão e o Sakei Hall de Tóquio - e cantar quase todos os poetas de fado - desde Linhares Barbosa a Frederico de Brito.
Cantou também Luís de Camões, Bernardim Ribeiro, Feliciano de Castilho, Guerra Junqueiro e os contemporâneos David Mourão-Ferreira, José Carlos Ary dos Santos, Pedro Homem de Mello ou Luís Macedo.
Amália também se firmou como poetisa, gravando em 1943 "Corria atrás das cantigas" e em 1962 "Estranha forma de vida", com música de Alfredo Marceneiro.
Mais tarde editaria um álbum só de inéditos seus: "Gostava de ser quem era", em 1980.
Três anos mais tarde edita "Lágrima", outro álbum de inéditos seus.
No total Amália cantou 30 poemas de sua autoria e em 1997 edita "Versos", com alguns poemas seus e sob a chancela da Cotovia.
A fadista foi a primeira "estrela internacional" da música portuguesa e muitos a viam como "única embaixadora de Portugal".
Ao longo da sua carreira de mais de 50 anos Amália Rodrigues gravou mais de 150 discos e participou em peças de teatro, além da revista - nomeadamente "A Severa" de Júlio Dantas - e em vários filmes, entre eles "Fado - História de uma cantadeira", de Perdigão Queiroga, que muitos viram como uma biografia ficcionada.
Na manhã de 06 de Outubro de 1999, a fadista morreu na sua casa na Rua de São Bento, em Lisboa.
A sua morte levou o Governo, então liderado por António Guterres, a decretar luto nacional e os partidos políticos a decidirem suspender o último dia de campanha eleitoral para as legislativas que decorreram esse ano.
NL. - Lusa/Fim
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