Maria Ana Bobone
Senhora de uma das mais belas vozes do fado, a cantora Maria Ana Bobone realiza esta noite, no Fórum Romeu Correia, em Almada, o espectáculo de lançamento do seu primeiro álbum a solo, ‘Nome de Mar’.
Maria Ana Bobone – Vou apresentar todos os temas possíveis do meu álbum a solo (‘Nome de Mar’). Algumas canções não poderão ser apresentadas por ausência das pessoas que nelas participam, como é o caso de ‘Súplica’, que foi gravada com os Tetvocal. Mas contarei com a Filipa Pais, com quem vou interpretar ‘O Achado’, tema que está incluído no álbum, e uma outra canção tradicional, que será cantada à capella. Depois, incluirei também temas mais antigos do meu repertório.
– Além de Filipa Pais, terá outros convidados em palco?
– Sim. O pianista João Paulo Esteves da Silva e ainda Artur Caldeira, professor de guitarra clássica no conservatório do Porto.
– ‘Nome de Mar’ é o seu primeiro trabalho em nome próprio. É uma espécie de emancipação?
– Não o diria dessa forma. Acontece que estive algum tempo sem cantar, por razões pessoais e, ao longo dessa fase, talvez por via de um processo de amadurecimento, percebi que estava preparada para conduzir um projecto do princípio ao fim.
– Apesar de ter um repertório muito variado, que vai dos fados clássicos aos originais, passando por temas do cancioneiro tradicional, ‘Nome de Mar’ mostra uma atmosfera erudita...
– A música erudita dá coisas ao fado, tal como o fado dá outras ao universo clássico. Algumas canções têm, propositadamente, arranjos mais eruditos, como é o caso de ‘Súplica’. Todavia, os temas que têm arranjos de piano, feitos pelo Ricardo Rocha, são muito mais influenciados pela música contemporânea. A ideia deste disco foi precisamente partir do fado para percorrer outras linguagens.
– Porque optou por gravar na Igreja da Graça?
– Pareceu-me mais natural gravar num espaço que tem uma acústica única do que tentar recriá-la em estúdio. A Igreja da Graça é a que tem melhor acústica em Lisboa. Além disso, é muito agradável tocar e cantar num local que nos ‘responde’.
– Diz que o poema de Manuel Alegre, que dá nome ao álbum, lhe serviu de inspiração...
– O poema ‘Nome de Mar’ chegou--me às mãos numa altura em que estava precisamente a fazer o trabalho de recolha e forneceu-me as resposta que precisava tanto a nível conceptual como pessoal. Conheci o Manuel Alegre num encontro de poesia na Suécia, onde me prometeu um poema para um disco meu.
– Como ‘descobriu’ o fado?
– Foi um acaso. Tinha frequentado o conservatório, em canto e piano, mas só depois de ter sido convidada pelo João Braga para participar num espectáculo dele, descobri que me identificava completamente com o universo do fado. Era qualquer coisa que havia em mim mas eu não sabia.
PERFIL
Descoberta para o fado por João Braga, Maria Ana Bobone deu primeiramente voz a um projecto de Miguel Capucho e Rodrigo da Costa Félix, de que resultou o disco ‘Alma Nova’ (1994). Seguiu-se outro álbum, com Ricardo Rocha e João Paulo Silva, intitulado ‘Luz Destino’ (1996).
Mas foi com ‘Senhora da Lapa’ (2000) que a sua voz cristalina, doce, mais erudita do que fadista, ganhou primazia, num trabalho que a consagrou definitivamente como um dos maiores valores do género. Aos 31 anos, estreou-se finalmente com um disco em nome próprio, ‘Nome de Mar’, no qual conta poemas de Manuel Alegre, Pedro Homem de Melo, entre outros.
Vanessa Fidalgo - CORREIO DA MANHÃ - 04.02.2006
Estávamos já a espera. Boa notícia para os adeptos da voz de Maria Ana Bobone.
Posted by: Ibérico | 10-02-2006 at 18:26