"O projecto vai começar oficialmente em Janeiro, mas Vítor Duarte Marceneiro, neto do lendário fadista Alfredo Marceneiro, está já a encetar as primeiras pesquisas, começando pelo universo musical que melhor conhece: o fado.
"O objecto de estudo está definido: canções, fados ou marchas que não só se refiram à cidade como tenham nos versos a palavra Lisboa", disse o investigador à Lusa.
"Não basta cantar os bairros, a luz da cidade ou o seu castelo: há que incluir a palavra Lisboa e o tema musical tem também que respirar Lisboa", explicou.
A ideia já existia há muito e só agora o investigador, que já publicou três biografias fadistas, encontrou condições junto da autarquia para começar "a trabalhar a sério no projecto que implica investigação não só nas bibliotecas e arquivos institucionais, como conhecer espólios que muitas famílias guardam carinhosamente".
A base de dados a constituir "não será uma mera listagem de títulos e poemas de e sobre Lisboa, mas a cada tema corresponderá a música em que é interpretado, os respectivos autores, a data da criação, quem a cantou pela primeira vez, a primeira gravação e as seguintes que presumivelmente existam".
Isto é, irá estabelecer-se o "cadastro" de uma canção, fado ou marcha popular que se refira a Lisboa.
"Iremos tentar saber o mais possível de cada tema alfacinha, e até de histórias que lhe estão na origem ou a ele ligadas", esclareceu.
Para o investigador, "esta é também uma nova proposta de abordagem da história da cidade".
Sendo uma base de dados, estará sempre em aberto podendo ser sucessivamente complementada e completada com informações que surjam, explicou o autor habituado às andanças de arquivos e a "desconfiar" os documentos.
"Um documento só por si deve ser contextualizado, devemos entender a época, a mentalidade que o realizou", diz, citando exemplos de investigações anteriores.
A sua "desconfiança" dos documentos levou-o a encontrar algumas novidades nas biografias que escreveu quer de Hermínia Silva quer do seu próprio avô, Alfredo Marceneiro, uma das figuras basilares do fado.
Para este projecto o investigador afirma-se ambicioso e conta encontrar "nunca menos de um milhar de temas".
Um número suficiente para impressionar os juízes do "Guinness Book of Records" e candidatar Lisboa a "cidade mais cantada do mundo", apesar de objectivo ser "a constituição de uma base de dados de temas musicais sobre Lisboa".
"Depois podem aparecer outras, nomeadamente Paris, Buenos Aires ou Rio de Janeiro, e nós continuaremos a investigação e descobriremos certamente mais", afirmou, confiante.
Este "recorde" é também um "galardão turístico" e "abre uma janela da cidade ao mundo".
Outro universo musical de pesquisa será o teatro de revista, de onde "saíram inúmeras melodias de Lisboa, sendo a cidade uma das referências revisteira
s por natureza".
Filho e neto de fadistas, Vítor Duarte Marceneiro também canta o fado e já gravou discos.
Foi produtor e realizador para a televisão, além de correspondente das televisões CBS (Estados Unidos) e ARD (Alemanha).
Editou os livros "Recordar Alfredo Marceneiro", em 1995, "Marceneiro - Os fados que ele cantou", em 2002, e há dois anos, "Recordar Hermínia Silva"."
NL. - Lusa
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