O Ministério da Cultura, a Câmara de Lisboa e a Empresa de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC) assinam terça-feira um protocolo para adquirir o espólio de discos portugueses pertencentes a um coleccionador inglês, soube a agência Lusa.
O espólio de cerca de 3.000 discos, na sua maioria de fado, inclui algumas das primeiras gravações de artistas nacionais, estando avaliado em cerca de um milhão de euros.
Fontes do ministério e da EGEAC disseram à Lusa que o protocolo será assinado terça-feira no Museu do Fado em Lisboa pela ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, o presidente da Câmara, António Carmona Rodrigues, e pelo presidente da EGEAC, José Amaral Lopes, após a apresentação do livro "Para uma história do fado", do musicólogo Rui Vieira Nery.
As fontes precisaram que, nos termos do protocolo, cada uma das entidades contribui com uma verba para a aquisição da colecção, comprometendo-se as três a desenvolver esforços para reunir o montante necessário.
Para a aquisição, o Ministério da Cultura disponibiliza 300.000 euros, a Câmara de Lisboa e a EGEAC 150.000 cada.
O espólio, na posse de Bruce Bastins, encontra-se em "muito boas condições", afiançou à Lusa José Moças, que o descobriu e propôs a sua aquisição por Portugal.
Entre os três milhares de exemplares de discos, num total de oito mil registos fonográficos, gravados entre 1904 e 1945, contam-se as vozes de Reinaldo Varela, José Bastos, Isabel Costa, Almeida Cruz, Eduardo de Souza, Rodrigues Vieira, Delfina Victor e Maria Victoria.
"Estas são as primeiras gravações de fado de sempre, que nos irão dar, certamente, uma outra perspectiva da história desta canção popular urbana", sublinhou José Moças.
Além dos fados, são "igualmente importantes do ponto de vista musical e etnográfico registos, mais tardios, de Maria Alice, Manassas de Lacerda, Avelino Baptista, Estêvão Amarante, Madalena de Melo, Maria Emília Ferreira, Júlia Florista e Maria do Carmo Torres, bem como dos mais conhecidos Ercília Costa, Berta Cardoso, António Menano, Edmundo de Bettencourt, Armandinho e o popular Alfredo Marceneiro".
"Há gravações incríveis de teatro de revista e duas dramatizações, feitas em 1911, da proclamação da República", referiu o investigador.
Muitos destes registos fonográficos, efectuados pela His Master's Voice, Columbia, Homokord, Victor ou Grammophone, estavam, há alguns anos, dados como perdidos.
O protocolo estabelece que o espólio ficará à guarda do Ministério da Cultura e que as três partes deverão proceder à sua digitalização, indicou uma das fontes.
O espólio foi descoberto em 1998, tendo a Câmara de Lisboa, desde o início, mostrado disponibilidade e interesse em o comprar.
A colecção adquiriu maior interesse com a decisão do então presidente da Câmara de Lisboa, Pedro Santana Lopes, de constituir um grupo de estudo para efectivar a candidatura do fado a Obra-Prima do
Património Imaterial da Humanidade.
Rui Vieira Nery considera a aquisição da colecção discográfica "essencial para um melhor conhecimento da história fadista, nomeadamente nos primórdios da gravação fonográfica".
Segundo José Moças, além desta colecção poderá haver no futuro "mais surpresas", nomeadamente a da descoberta de outros discos de artistas portugueses no Brasil ou nos Estados Unidos.
Agência Lusa
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