A fadista com mais anos no activo, Maria Amélia Proença, distinguida no ano passado com o Prémio Carreira da Casa da Imprensa, editou este ano um novo álbum, intitulado "Fados do meu fado". Para este álbum, a fadista, de 60 e poucos anos, disse recentemente em entrevista à Agência de Notícias Lusa ter escolhido fados que canta habitualmente, com os quais se identifica ou sente "alguma coisa".
A Diva do Fado, que prestigia as noites das casa de fados de Lisboa, acrescentou: "Escolhi e experimentei, até porque há fados que, sendo bonitos, não ficam bem na nossa voz".
Além de fados do seu repertório, casos de "Era só o que faltava" (Jorge Rosa/António Redes Cruz) e "Duas cantigas" da mesma dupla de autores, Maria Amélia recria fados dos repertórios de Amália Rodrigues, Fernando Farinha, Fernanda Baptista, Maria Clara ou Simone de Oliveira. Os 14 fados que integram o último álbum, editado pela Ocarina, são todos tradicionais, isto é, apenas acompanhados à guitarra, viola e viola-baixo, onde Maria Amélia afirma "sentir-se melhor".
"Sinto-o, assim, mais meu e portanto posso transmiti-lo melhor, com sentimento, pois hoje o fado é escutado noutras latitudes", acrescentou a representante da chamada "geração de cantores do fado tradicional". Tendo começado a cantar aos sete anos em verbenas (espaços ao ar livre onde aconteciam espectáculos), Maria Amélia Proença integrou praticamente todos os elencos das casas de fado, nomeadamente o Café Luso, considerado "a catedral do fado".
Participou em peças de teatro e vários programas de variedades, cegadas (peças de teatro popular que aconteciam nas ruas ou em sociedades recreativas) e começou na década de 1970 a deslocar-se ao estrangeiro. "A minha primeira saída ao estrangeiro, creio, foi em 1972 ao Extremo Oriente, uma digressão de mais de meio ano, tendo actuado em Macau, Singapura e Japão", contou.
Maria Amélia Proença, que se estreou artisticamente com o nome de Maria Amélia Marques, foi notada por Manuel Afonso que, pedindo autorização ao pai, a inscreveu num concurso de fados do jornal Ecos de Portugal, que acabaria por vencer. Aos oito anos a fadista Ercília Costa entregou-lhe a Taça Amália Rodrigues, e a imprensa da época afirmava que o seu a canto era "expressão verdadeira" com "graça própria, vida e garra".
Características que ainda hoje os críticos lhe apontam, afirmando que a fadista "é senhora de uma voz característica e interpretação única a que alia uma vitalidade, voz firme, demonstrando hoje um amadurecimento que refina o seu estilo".
Da vitória no concurso em 1946 passa a cantar, com autorização da Inspecção-geral dos Espectáculos em vários cafés do empresário José Miguel, nomeadamente no Casablanca. "Nessa altura nunca imaginei que o fado fosse ouvido em salas tão grandes lotadas de apreciadores de todas as línguas", disse recentemente à Agência de Notícias Lusa. "Ainda hoje, quando piso uma dessas salas, me emociono, aliás hoje dou muito mais valor a cada momento que vivo", disse.
Para a fadista o facto de a língua poder não ser entendida pelas audiências estrangeiras "é ultrapassado pelo sentimento e a expressão" que coloca em tudo o que canta. "Daí cantar sempre algo em que me sinto bem e gosto", explicou. Neste CD, Maria Amélia Proença é acompanhada à guitarra portuguesa por Manuel Mendes, à viola pelo seu filho, Carlos Manuel Proença, e à viola-baixo por Marino de Freitas. Entre os autores que escolheu refira-se José Carlos Ary dos Santos, "Demos as mãos", com música de Martinho da Assunção, João da Silva Tavares, "Quero e não quero", com música de Alberto da Silva, Frederico de Brito, "Fado das queixas", com música de José Carlos Rocha ou Eduardo Damas, "As pedras que tu pisas", com música de Manuel Paião.
A fadista apresentou este novo álbum (que qualifica "o melhor" que já fez) no final de Maio com grande sucesso na FNAC do Chiado, em Lisboa. Dos vários palcos que pisou, recorda "com forte emoção" as actuações no Concertgebouw (Amesterdão), ou ao lado de Mariza no Royal Festival Hall, em Londres, ou no Le Carré, em França. No Concertgebouw cantou no Concerto do Milénio, em Janeiro de 2001, acompanhada pelo Nederlanders Blazers Ensemble para uma audiência de mais de um milhão de telespectadores.
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