Lisboa, 30 Set (Lusa) - O fadista António Zambujo revisita, no novo álbum "Outro sentido", a editar esta semana, os repertórios de Amália, Adriano Correia de Oliveira, Carlos Ramos e ainda os cancioneiros brasileiro e açoriano. "Este não é assumidamente um disco de fados e antes um disco com fados, onde exploro outras sonoridades como o jazz e a bossa nova que influenciaram a minha formação musical", disse António Zambujo.
A base musical do álbum é o violão, sendo o artista acompanhado por Carlos Manuel Proença (guitarra clássica), José Manuel Neto e Paulo Parreira (guitarra portuguesa) e Ricardo Cruz (contrabaixo/baixo acústico), Mário Delgado (guitarra eléctrica), Paulo Guerreiro (trompas), Fernando Nunes (programação de loop), Daniela de Brito (violoncelo), se bem que o próprio fadista se acompanha, nomeadamente em "A nossa contradição" além de assinar alguns arranjos musicais.
O produtor musical é Ricardo Cruz, que já o fora nos dois anteriores álbuns de Zambujo, "O mesmo fado" e "Por meu cante".
Entre os 13 temas que compõem "Outro sentido", destaque para o tema açoriano "Chamateia" (António Melo de Sousa/Luís Alberto Bettencourt) que conta com a participação especial das Vozes Búlgaras Angelite.
"Foi uma feliz coincidência, o grupo estava em digressão em Portugal, ouviram o tema e gostaram e gravámos no Teatro Viriato, em Viseu", explicou o cantor que considera este um dos temas "mais tocantes".
Todos os outros temas do álbum foram gravados nos estúdios Pé de Vento, nos passados meses de Junho e Julho.
Do outro lado do Atlântico escolheu um tema de Vinicius de Moraes e António Maria, "Quando tu passas por mim", e "Lábios que beijei" (J. Cascata/Leonel Azevedo).
"Neste álbum faço algumas homenagens, nomeadamente a Amália Rodrigues, Carlos Ramos e Max, que considero o cantor português mais completo", prosseguiu.
De Amália, Zambujo canta "Amor de mel, amor de fel" (A. Rodrigues/Carlos Gonçalves), "Fadista louco" (Alberto Janes), "Nem às paredes confesso" (Max/Artur Ribeiro/Francisco Trindade) e "Foi Deus" (A. Janes).
Ao repertório de Carlos Ramos (1907/1969) foi buscar "Eu já não sei" (Domingos Gonçalves Costa/Carlos Gonçalves).
"Foi para mim um desafio recriar todos estes clássicos da música portuguesa, aos quais proponho a minha perspectiva musical", disse.
Outro tema recriado por Zambujo é "Ao Sul" que João Monge e João Gil escreveram para a Ala dos Namorados.
Uma canção que Zambujo gostou e para a qual Carlos Manuel Proença fez um arranjo musical.
O único original do disco é "A nossa contradição", uma letra de Aldina Duarte para uma música de Alfredo Marceneiro.
António Zambujo aprendeu a tocar viola na Academia de Música de Beja, sua terra natal. Aos 16 anos venceu um concurso de fado, e em 2003 foi considerado a melhor voz do fado pela Rádio Central FM. Integrou o elenco do musical "Amália", de Filipe La Feria, e no ano passado recebeu o Prémio Amália Rodrigues para o Melhor Fadista.
Este ano apresentou-se no Instituto do Mundo Árabe, em Paris, convidado pela fadista Maria da Fé. Zambujo canta diariamente no Restaurante Senhor Vinho, em Lisboa, de Maria da Fé e do poeta José Luís Gordo.
NL.
Fado: António Zambujo estreia-se a solo em Londres
Londres, 14 Out (Lusa) - O fadista António Zambujo canta a solo pela primeira vez em Londres, terça-feira, no restaurante-bar Momo, onde apresentará o seu terceiro álbum, "Outro Sentido", editado há duas semanas.
Zambujo, que em 2006 venceu o Prémio Amália Rodrigues para o Melhor fadista, já se apresentou há quatro anos na capital inglesa, num concerto com Katia Guerreiro na Purcell Room.
Em declarações à Lusa, o fadista afirmou que as audiências internacionais não lhe são estranhas.
"Já estou habituado a actuar para estrangeiros, porque as noites do fado em Lisboa são frequentadas essencialmente por turistas de todas as partes do mundo", observou.
O resultado é que "as pessoas dizem que não percebem o que digo, mas compreendem a linguagem da música", afirmou Zambujo, que faz parte do elenco habitual no restaurante "Senhor Vinho", na capital portuguesa.
No álbum mais recente, "Outro Sentido", onde mistura fados clássicos com interpretações de temas de João Gilberto, Caetano Veloso ou Chet Baker, as letras estão traduzidas em inglês, um reflexo do desejo de chegar a novos públicos.
Zambujo justifica esta opção por este disco ser "o que está a ser mais promovido a nível internacional" com o objectivo de "alargar o mercado e obter uma maior opção de salas".
Em Portugal "a recepção foi um pouco diferente [da registada no passado], este disco está a chegar mais ao público e com resultados mais favoráveis, principalmente junto da imprensa".
"Tem influências que vão além do fado, como a música brasileira e o jazz", assinalou, reconhecendo que isso tem levantado algumas reservas dos "puristas" apreciadores do fado.
Este registo eclético levou a que fosse convidado para se apresentar no bar Momo, um reputado restaurante norte-africano situado no centro de Londres e animado regularmente por com um cartaz de artistas de todo o mundo.
"Outro Sentido" é o terceiro álbum de António Zambujo, depois de "O mesmo Fado" (2002) e "Por Meu Cante" (2004).
Nascido em 1975 em Beja, ganhou um concurso de Fado aos 16 anos, mas foi com a participação no musical de Filipe La Féria "Amália" - onde interpretava o papel do primeiro marido da fadista - que cimentou a reputação.
Em 2006 foi considerado pela Fundação Amália Rodrigues a "Melhor Voz Masculina de Fado".
Antes de Londres, António Zambujo já se apresentou este ano no Canadá e deverá voltar a sair do país antes do Natal, para Espanha, tendo previsto para o próximo ano mais concertos em Paris.
Apesar de estar conotado com a música mais emblemática de Portugal, António Zambujo não pretende "aproveitar a onda" de interesse que o sucesso de Mariza despertou pelo fado no estrangeiro, em particular no Reino Unido.
"O que me importa é continuar a tocar e que as pessoas saiam satisfeitas ", concluiu.
BM
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