O FADO E PORTUGAL

Fado a caminho da UNESCO

Candidatura a Património Imaterial da Humanidade está concluída
Investigadores e músicos reuniram-se em Lisboa para conversar e reflectir sobre o fado.
"0 fado é a mais nacional de todas as canções, faz-se a si próprio, está em constante recriação e não é uma obra acabada." A afirmação é de Rui Vieira Nery, musicólogo, autor do livro "Para uma História do Fado" e membro da comissão organizadora do Congresso Internacional do Fado, que se realizou entre quarta-feira e sábado passados, em Lisboa.
Durante a abertura do Congresso, Rui Vieira Nery anunciou que a candidatura do fado a Património da Humanidade está pronta.
Na sexta-feira, Pedro Félix, membro da equipa de investigação do projecto da candidatura desde 2004, explicou que o trabalho ainda não está, no entanto, totalmente concluído. "É uma realidade difícil de patrimonializar. Como é que se patrimonializa a música?", indagou o investigador.
Segundo Pedro Félix, a equipa viu-se obrigada a dedicar um ano à preservação física "de fonogramas, muitos encontrados em avançado estado de degradação.
É um trabalho longo e difícil. "0 património imaterial é um grande desafio, mas conseguimos abrir o diálogo sobre o fado numa perspectiva mais académica, criámos grupos de investigação e continuamos a aprender fazendo", disse Sara Pereira, directora do Museu do Fado e coordenadora do projecto de candidatura.
Objectivo: "Criar um espaço em rede, com arquivos, universidades, museus e pessoas, envolvendo todos numa rede dinâmica e activa", afirmou Pedro Félix.
Ao longo dos quatro dias do Congresso, foram muitas as surpresas apresentadas. Foi o caso do fado "Lisboa, Menina e Moça", popularizado pelo fadista Carlos do Carmo, que soou na sala de conferências através de uma gaita-de-foles. Carlos do Carmo, presença assídua no congresso, aplaudiu a iniciativa.
"É bom que se façam estas coisas", afirmou. "Nos anos 80 e 90, o fado foi quase prescrito, um crime que só os portugueses se lembrariam de cometer", concluiu..
MARTA COSTA SANTOS

Espólio
Desde que o grupo de investigação do projecto de candidatura do fado a Património da Humanidade, foram identificados 4 300 fonogramas anteriores a 1975, 12 000 fados gravados e 150 instituições com actividades ligadas ao fado.
METRO - 23.06.2008

Noite de fados no Cadaval lança Associação Alfredo Marceneiro

O fadista e compositor de fado Alfredo Marceneiro é tema de uma noite de fados, no próximo sábado, no Cadaval, terra dos seus pais, numa iniciativa da associação em formação que ostentará o seu nome.
"Filho de cadavalenses, é intenção de um grupo de apreciadores de fado desta região constituir uma associação que valorize activamente a obra do grande criador que foi Alfredo Marceneiro", disse à Lusa Francisco Pintéus, da comissão instaladora da Associação Alfredo Marceneiro (AAM).
"Outro objectivo da associação é distinguir anual ou bi-anualmente um disco de fado ou uma criação fadista com o Prémio Alfredo Marceneiro, a exemplo do que acontece com os prémios José Afonso e Carlos Paredes, respectivamente na Amadora e Vila Franca de Xira", acrescentou.
Para Pintéus, “figura maior do fado, Alfredo Marceneiro nem sempre tem tido o destaque que merece”.
A AAM "tem ainda como objectivo constituir um acervo documental sobre o fadista, bem como um núcleo musológico, estando activamente a trabalhar com familiares seus", acrescentou.
A noite de fados de sábado decorrerá no Pavilhão Augusto Simões, sendo a primeira parte preenchida pela exibição de um diaporama sobre a vida e obra do criador de "A casa da Mariquinhas", de autoria do seu neto Vítor Duarte Marceneiro, distinguido este ano com o Prémio Amália Rodrigues de Ensaio e Divulgação.
Autor de dois livros sobre Alfredo Marceneiro, uma biografia de Hermínia Silva e do blog - http://lisboanoguiness.blogs.sapo.pt -, Vítor Duarte Marceneiro interpretará, no espectáculo do Cadaval, fados celebrizados pelo seu avô.
Participam ainda na noite de fados João Paulo, Miraldina, Cláudia Picado e Manuel Domingos (Prémio Amália Fado Amador 2006), entre outros, sendo acompanhados por Luís Ribeiro, à guitarra portuguesa, e Jaime Martins, à viola.
Alfredo Marceneiro faleceu há 26 anos, em Lisboa, cidade onde nasceu, mas segundo o seu neto e biógrafo "foi gerado no Cadaval".
Alfredo Marceneiro é autor de dezenas de composições de fados, entre elas, "fado cravo" e "fado versículo".
As suas músicas continuam hoje a ser cantadas com novos poemas, como sucedeu no novo álbum de Camané, intitulado “Sempre de mim”.
Entre os seus êxitos cite-se, "A Lucinda camareira" (Henrique Rêgo/A. Marceneiro), "A casa da Mariquinhas" (Silva Tavares/A. Marceneiro), "Conceito" (Carlos Conde/A. Marceneiro), "Ser fadista" (Armando Neves/A: Marceneiro), ou "Cabelo branco" (H. Rego/A. Marceneiro).
Alfredo Marceneiro teve uma longa carreira, que abrangeu praticamente todo o século XX, tendo-se distinguido como estilista [forma de variar dentro da mesma linha melódica] e compositor.
Cantou dos bailes de bairro, nos cafés de camareiras e retiros até às casas de fado. Deixou numerosos discos, de que se destaca "The fabulous Marceneiro", mas escassos registos televisivos.
NL. - Lusa - 10.06.2008

Aldina Duarte edita álbum onde procura harmonizar alegria e tristeza

A fadista Aldina Duarte edita esta semana o seu terceiro álbum, "Mulheres ao espelho", o primeiro com uma capa colorida, como sublinhou à Lusa, por ser o que revela "maior harmonia entre a alegria e a tristeza".
"Espelho de mulheres" é editado pela Roda-Lá Music, etiqueta criada pela artista que, perante "portas fechadas", decidiu "arriscar".
Neste álbum de capa colorida, design de Rui Garrido e fotografia de Isabel Pinho, além do fado tradicional, Aldina Duarte canta fados canção.
A fadista canta cinco poemas seus e dois de Rosário Pedreira, “poeta” com que fecha o CD declamando "Mãe", de sua autoria.
O primeiro verso do poema reza assim: "Mãe, eu quero ir-me embora - a vida não é nada".
Aldina afirmou à Lusa que "o poema da Maria Rosário fala de uma coisa que ninguém quer ouvir mas sobre a qual devemos pensar, para a qual temos de conseguir olhar e até por solidariedade com quem viveu por aquela situação".
"Foi uma situação pela qual uma amiga minha passou e há coisas que são duras e não queremos pensar, mas essa não é atitude certa", acrescentou.
Maria José da Guia, Hermínia da Silva e Lucília do Carmo são três fadistas a quem presta homenagem por lhe "servirem de espelho".
De Maria José da Guia, falecida em 1992, canta "Bairro divino" (Álvaro Duarte Simões); de Hermínia Silva, que morreu a 13 de Junho de 1993, "A rua mais lisboeta" (Lourenço Rodrigues/Vasco Macedo); e de Lucília do Carmo, falecida há nove anos, interpreta "Não vou, não vou" (Júlio de Sousa/Mário Moniz Pereira).
"São três mulheres que me servem de espelho na minha profissão de fadista", sublinhou.
Mas não é "este espelho" a razão única da escolha do título do álbum. Segundo Aldina, "este espelho espelha também histórias com princípio, meio e fim de muitas mulheres".
"Vi-me em muitas mulheres quando idealizei este álbum", explicou.
Acompanham a fadista os músicos que com ela gravam desde o primeiro álbum, José Manuel Neto na guitarra portuguesa e Carlos Manuel Proença na viola (Prémio Amália Rodrigues 2008), que também assina a direcção musical.
Interessada nas "coisas do fados e nas suas histórias e história", Aldina Duarte afirmou à Lusa que este seu trabalho de "constante pesquisa" é "um instrumento do fado" e que ouvindo e conhecendo vai "apurando o ouvido e a sensibilidade".
Actualmente empenhada na divulgação deste álbum, a fadista tem em projecto um programa de rádio e agendados vários espectáculos.
Dia 04 de Julho actua no Cine-Teatro Batalha no Porto, mas antes apresenta "Espelho de mulheres", dia 28 de Junho, na FNAC Chiado (Lisboa), pelas 18:00.
Dia 07 de Julho actuará em Berlim, no âmbito do Festival Internacional de Poesia, e 13 do mesmo mês inicia um ciclo de apresentações aos domingos na Fábrica de Braço de Prata, em Xabregas, Lisboa.
"Apenas Amor", de 2004, foi o álbum de estreia da fadista, que começou a cantar aos 24 anos e se afirma admiradora de Camané, Beatriz da Conceição, Maria da Fé, Mariza e Carlos do Carmo.
O disco foi bem acolhido pela crítica e público e em 2006 editou "Crua", um álbum composto exclusivamente por poemas de João Monge.
Aldina Duarte, natural de Lisboa, cresceu em Chelas, começou a trabalhar aos 20 anos num jornal e passou depois pela rádio.
Cantou no coro de uma banda, os "Piranhas Douradas", e trabalhou no Centro de Paralisia Cerebral, onde deu o seu primeiro espectáculo.
Camané, Mariza, Pedro Moutinho e António Zambujo, são alguns dos fadistas que interpretam poemas de sua autoria.
NL. - Lusa - 06.06.2008

Ana Moura no Concertgebouw de Amesterdão antes dos Coliseus

A fadista Ana Moura actua quarta-feira no Concertgebouw, em Amesterdão, Holanda, seguindo para Liége, Bélgica, onde actua domingo no Cinema Parc.
Estes dois concertos acontecem uma semana antes da fadista subir aos palcos dos coliseus do Porto e Lisboa, respectivamente dias 24 e 26.
Para a fadista, que ainda este ano realizou uma digressão por 20 palcos holandeses, "o regressar é sempre positivo, é um sinal que nos querem".
Em declarações à Lusa a fadista afirmou que actua "sempre com mais confiança" quando volta a um palco onde já esteve.
"A primeira vez numa sala é sempre o receio do desconhecido, de como o público vai reagir. Quando se regressa, vai-se mais confiante", disse.
A fadista acrescentou que continua a ser muito requisitada para cantar na Holanda, o que lhe agrada.
Nos dois espectáculos vai apresentar, essencialmente, o seu novo álbum "Para além da saudade", já disco de platina em Portugal.
Distinguida, este ano, com o Prémio Amália Rodrigues para a Melhor Fadista, Ana Moura será acompanhada por José Manuel Neto à guitarra portuguesa, Jorge Fernando à viola e José Elmiro na viola-baixo.
O espectáculo na prestigiada sala de Amesterdão insere-se no Amsterdam Festival Roots.
Depois da Holanda e Bélgica, Ana Moura fará a sua estreia nos coliseus e dia 28 actuará no Festival Med, em Loulé.
NL. - Lusa - 10.06.2008

Hélder Moutinho actua em Barcelona nos Jardinets de Gràcia

O fadista Hélder Moutinho apresenta domingo, em Barcelona, "Luzes da cidade", interpretando temas dos seus dois álbuns mais recentes, um deles distinguido com o Prémio Amália Rodrigues em 2005.
O fadista, que recentemente actuou no Zimbabué, actuará domingo nos Jardinets de Gràcia, em Barcelona, acompanhado por Pedro Amendoeira na guitarra portuguesa, Marco Oliveira na viola e Yami na viola baixo.
O alinhamento do espectáculo inclui fados tradicionais e musicados dos dois álbuns editados: "Luz de Lisboa" e "7 fados e alguns cantos".
"Este é o alinhamento que apresentei na minha digressão aos Estados Unidos e que levo aos palcos tradicionais. São fados do meu repertório e outros que são da história do fado", disse à Lusa o fadista.
Hélder Moutinho, irmão de dois outros nomes de referência do Fado, Camané e Pedro Moutinho, começou por cantar entre amigos.
Em 1994, integrou o elenco da casa de fados Nono, no Bairro Alto, em Lisboa, e nesse mesmo ano, no âmbito de Lisboa - Capital Europeia da Cultura, participou no projecto "Fados da Mãe-d´Água".
Tem actuado com regularidade noutras casas de fado lisboetas, designadamente a Taverna do Embuçado e Mesa de Frades, em Alfama (Lisboa) e participado em vários espectáculos, tanto em Portugal como no estrangeiro.
Integrou o cartaz do Festival de Rudolstadt (Alemanha), do FESTIMA (Portugal), Músicas de cidades com Portos (Lisboa), de Nova Jérsia (EUA), e "Um Porto de Fado" (Porto), entre outros.
NL. - Lusa - 06.06.2008

Carlos do Carmo actua quinta-feira em Luanda

O fadista Carlos do Carmo actua na próxima quinta-feira em Luanda, no Cine Atlântico, no âmbito das comemorações do Dia de Portugal.
Em declarações à Lusa, o fadista afirmou que este é um convite já formulado o ano passado "mas que só agora foi possível concretizar".
Quanto ao alinhamento do espectáculo, Carlos do Carmo afirmou: "no terreno irei fazer o levantamento do meu repertório, reflectir, e, com certeza, irei fazer um percurso pela minha carreira".
O fadista será acompanhado à guitarra portuguesa por Paulo Parreira, à viola por Carlos Garcia e à viola-baixo por Fernando Araújo.
De Angola o fadista afirmou ter "boas recordações e bons amigos". A última vez que actuou em Angola foi "há cerca de dez anos".
O criador de "Canoas do Tejo" (Frederico de Brito) disse à Lusa que actuou várias vezes em Angola, e recordou "duas digressões realizadas antes da independência [a 11 de Novembro de 1975], e, posteriormente, muitas vezes".
Carlos do Carmo editou recentemente o álbum "À noite" para o qual convidou poetas contemporâneos como Maria do Rosário Pedreira ou Fernando Pinto do Amaral, a escreverem para melodias tradicionais de Joaquim Campos, Armandinho e Alfredo Marceneiro.
Depois da actuação em Angola, este mês ainda, o criador de "Por morrer uma andorinha" (F.Brito/Francisco Viana) tem previsto um espectáculo dia 24 na Praça da Oliveira em Guimarães, e dia 28 encerra a Festa do Fado no Castelo de S. Jorge, em Lisboa.
NL.- Lusa - 09.06.2008

Fadista Raquel Tavares estreia-se em terras sul-americanas

A fadista Raquel Tavares actua pela primeira vez, esta semana, na América do Sul, apresentando-se em Montevideu, Santiago do Chile e Buenos Aires.
A fadista, distinguida o ano passado com o Prémio Revelação da Casa da Imprensa, actua quinta-feira na Sala Zitarrosa na capital uruguaia.
Raquel Tavares, que recentemente realizou uma digressão pela Bélgica, Holanda e Grécia, apresentará nas três capitais sul-americanas o seu mais recente álbum "Bairro".
Com a fadista estarão Guilherme Banza, na guitarra portuguesa, Miguel Gonçalves, na viola, e Daniel Pinto, na viola-baixo.
Do Uruguai a artista segue para Santiago do Chile, onde actua a 08 de Junho no Teatro Nacional.
Estas actuações, que se inserem nas comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades (10 de Junho), terminam dia 11 na capital argentina.
Na cidade portenha, Raquel Tavares subirá ao palco do Teatro Coliseo.
O álbum "Bairro", que servirá de guia no alinhamento dos espectáculos, foi editado a 05 de Maio e integra vários inéditos e temas do repertório fadista como "Tia Dolores" (João Linhares Barbosa/José António Serôdio), uma criação de Lucília do Carmo.
Fonte da produção disse à Lusa que a fadista, distinguida com o Prémio Amália Rodrigues Revelação 2006, "aproveitará para apresentar também alguns temas do seu álbum de estreia, como 'Fado lisboeta'".
NL. - Lusa - 03.06.2008

Duarte, Prémio Amália Revelação 2006, realiza quatro espectáculos em Bissau

O fadista Duarte, Prémio Amália Rodrigues Revelação 2006, actua na próxima semana em Bissau, no âmbito das comemorações do Dia de Portugal, em que apresentará temas do novo álbum que sairá em Setembro.
Além de três espectáculos já agendados, o fadista participará num "workshop" sobre a guitarra portuguesa e a viola que decorrerá na capital guineense.
Duarte far-se-á acompanhar à viola e na guitarra portuguesa por Samuel Cabral.
No dia 10 de Junho, o intérprete de "Prece" (Pedro Homem de Melo/Jorge Fontes) actuará na embaixada de Portugal e no dia 12 realiza com Samuel Cabral um "workshop" no Centro Cultural Português em Bissau, actuando à noite no bar XIS-Club.
Dia 13 o fadista português participa num concerto ao ar livre no Espaço Lenox em Bissau, ao lado de vários artistas guineenses, entre eles, Carina Gomes.
Dia 14 regressa ao Centro Cultural português para um espectáculo a solo.
Em declarações à Lusa, Duarte afirmou: "Não estou com nenhuma expectativa em especial, apenas com curiosidade natural, pois é a minha estreia em terras africanas".
Do seu repertório, Duarte irá interpretar "Évora doce", "Fado Novembro", "Eu sei que foste eterna numa hora", de sua autoria, e ainda "Quadras populares", de Fernando Pessoa.
"Vou aproveitar para experimentar alguns temas novos para o próximo álbum que sairá em Setembro", acrescentou.
Sobre o álbum, Duarte afirmou que a maioria dos temas são de sua autoria, ou a letra ou a música, mais incluirá "muitos fados tradicionais também", adiantou.
O disco será produzido por Carlos Manuel Proença (Prémio Amália Rodrigues Melhor Instrumentista 2008), que já assinou a produção de álbuns de António Zambujo e Maria Amélia Proença, entre outros.
Natural de Évora, Duarte descobriu o fado em 1987. Tem formação musical, nomeadamente em piano e guitarra clássica e canta habitualmente no restaurante típico Senhor Vinho, em Lisboa.
Em 2004, integrou a selecção "Fados do Porto", com o tema "Dizem que o meu fado é triste", de sua autoria, e editou o primeiro álbum, "Meus fados".
NL. - Lusa - 04.06.2008

Fadista Ricardo Ribeiro grava poetas portugueses com o músico libanês Rabih Abou-Khalil

À música do libanês Rabih Abou-Khalil juntou-se pela primeira vez uma voz, a do fadista Ricardo Ribeiro, que escolheu poemas em português de autores como José Luís Gordo, Mário Raínho ou Rui Manuel, originando um disco invulgar.
O projecto começou o ano passado por intermédio do encenador Ricardo Pais que os apresentou, seguiram-se dois espectáculos em Lisboa e no Porto, e esta semana surge o álbum, "Rabih Abou-Khalil em português".
"É um projecto que me enche de orgulho pela satisfação que foi trabalhar com um extraordinário músico, e pela forma como o trabalho fluiu, sem forçar nada, correndo tudo muito naturalmente", disse à Lusa Ricardo Ribeiro.
Pela primeira vez, Abou-Khalil juntou voz à sua música.
Os poemas, todos inéditos, foram propositadamente escolhidos para o projecto, à excepção de "Casa da Mariquinhas", de Silva Tavares, que Alfredo Marceneiro popularizou.
"Escolhi letras de poetas com os quais me identificava, todos os autores são contemporâneos e estão vivos, exceptuando Silva Tavares", disse o fadista.
"Casa da Mariquinhas", "Adolescência perdida", de autoria do fadista António Rocha, "Já não dá como está", de Rui Manuel, e "No mar das tuas pernas", de Tiago Torres da Silva, são os favoritos de Ricardo, de um grupo de 12 temas.
“Na realidade gosto de todos os poemas, por isso os escolhi, mas estes têm um gosto especial”, justificou.
"'No mar das tuas pernas' surgiu porque o Rabih queria uma letra erótica, quase pornográfica, como indicava a cadência da sua composição musical", explicou.
"No caso de 'Casa da Mariquinhas' que é um poema que permite uma leitura nas entrelinhas, a música de Khalil é muito subtil, com descida nas escalas nessas segundas leituras, e depois um ritmo mais acelerado".
"'Adolescência perdida', de que gosto muito, mostrei-a ao Rabih, e numa semana, durante as gravações em estúdio, aprendi a música e gravámos", afirmou.
Para o fadista, vencedor de uma Grande Noite do Fado (1998) e detentor de um Prémio Amália Rodrigues Revelação (2005), "há na música de Abou-Khalil laivos de fado e até do cante alentejano, mas não houve qualquer tipo de tentativa de aproximação".
“Claro que está lá fado, porque canto fado, mas procurei desligar-me e corresponder ao registo pretendido, à cadência e ao ritmo”, disse.
"Essas reminiscências quer do fado quer do cante são naturais, pois os árabes estiveram 800 anos na Península Ibérica", acrescentou.
Fadista da linha tradicional, habituado ao público das casas de fado e das noites de tertúlia fadista, Ricardo Ribeiro afirmou à Lusa que se sentiu "assustado" com o projecto que lhe parecia "complicado".
"Fiquei assustado, com um músico do calibre do Rabih que nunca tinha juntado voz à sua música, mas depois correu muito bem", disse.
"Na música de Khalil tanto o ritmo, muito forte, como a melodia são muito improvisados e não há uma base harmónica como estou habituado no fado", acrescentou.
O fadista realçou que "intuitivamente" se aproximou da música de cariz árabe e quanto a mudanças de estilo afirma: "Sou eu na mesma, porque afinal é a minha alma que canta".
Com Ricardo Ribeiro (voz) e Rabih Abou-Khalil (alaúde) estão Michel Godard (tuba), Jarrod Cagwin (tambor tradicional árabe) e Luciano Biondini (acordeão).
Mannheim, na Alemanha, e Dudelange, no Luxemburgo, são os dois próximos palcos deste projecto, respectivamente a 06 e 14 de Junho.
Agendados estão já mais de uma dezena de espectáculos na Europa: Vila Nova de Cerveira será a primeira localidade portuguesa a recebe-los, dia 26 de Julho. Dia 04 de Agosto estarão no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, e dia 10 do mesmo mês na casa da Música, no Porto.
NL. - Lusa - 02.06.2008